O vírus sincicial respiratório (VSR), que afeta crianças e pode ocasionar em um quadro de saúde grave, especialmente em bebês, voltou a alertar os médicos pediatras desde o afrouxamento das medidas restritivas impostas pela pandemia de Covid-19.
Em 2022, o Brasil registrou pelo menos dois picos de infecções, um no primeiro semestre e o outro no segundo. Contudo, o ano terminou com um novo sinal de crescimento.
O boletim InfoGripe, um monitoramento periódico feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), informada que o VSR representava apenas 0,5% das internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no mês de novembro e no início de dezembro. Durante o período entre 11 de dezembro e 7 de janeiro, a ocorrência de VSR entre os pacientes internados por complicações respiratórias aumentou para 12,6%. As principais vítimas são crianças até 4 anos.
A Secretaria de Estado da Saúde informou aumento de 20% nos atendimentos para o vírus sincicial respiratório nos dois hospitais infantis de referência nas últimas quatro semanas.
A pasta também informou que, até o presente momento, não houve necessidade de utilizar todos os leitos de enfermaria e UTI pediátricas disponíveis na rede do SUS no estado.
Na rede privada da cidade de São Paulo, o Hospital Infantil Sabará teve quatro casos positivos para cada dez testes rápidos de VSR realizados, entre 10 e 16 de dezembro. Esse número diminuiu na última semana de 2022, mas teve um pequeno aumento nos primeiros sete dias deste ano, atingindo 18%.
Juliana V. S. Framil, do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Infantil Sabará, disse que esse percentual é devido à época do ano.
“Na primeira semana de janeiro, a procura dos pacientes com sintomas respiratórios diminuiu, mas muito provavelmente essa redução reflete a baixa procura pelo hospital por causa do período das festas de fim de ano — a população, em sua maioria, viaja e evita procurar o hospital, exceto diante de sintomas mais graves” afirma.
O médico Renato Kfouri, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), relata que esses surtos de VSR têm como pano de fundo o isolamento ao qual muitos bebês e crianças foram impostos, gerando assim um “acúmulo de suscetíveis”.
“[Foram] dois anos sem circulação nenhuma do VSR, sem exposição nenhuma das crianças. Acumularam-se duas, três coortes de nascidos sem exposição. A sazonalidade desorganizada, pelo predomínio do coronavírus. Tudo isso tem feito com que a circulação extemporânea de outros vírus respiratórios — não só o VSR — aconteça fora dos períodos habituais, com irregularidades também não habituais”, relata.
O especialista, contudo, fala que é impossível saber quando o vírus sincicial respiratório voltará a ter padrões habituais de circulação — antes da pandemia, os picos de transmissão ficavam restritos ao outono e início do inverno.
O VSR é considerado um pneumovírus, dividido nos subgrupos A e B. De acordo com o Manual Merck de Diagnóstico e Tratamento, ele é “onipresente” e quase todos os pequenos são contaminados aos 4 anos.
“Como a resposta imunitária ao VSR não protege contra reinfecção, a taxa de ataque é de aproximadamente 40% para todas as pessoas expostas. Contudo, anticorpos contra o VSR diminuem a gravidade da doença. O VSR é a causa mais comum de doença do trato respiratório inferior em crianças pequenas”, completa o manual.
Sendo assim, os recém-nascidos têm mais probabilidade de contrair o vírus sincicial respiratório e, consequentemente, apresentar problemas respiratórios por não terem anticorpos ainda.
“A maior causa de internação é piora do padrão respiratório, com necessidade de suporte de oxigênio. Lactentes com menos de 6 meses de idade, principalmente prematuros, crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade e cardiopatas representam os grupos de maior risco para desenvolver infecção respiratória mais grave”, diz Juliana.
A infecção pelo VSR pode se agravar para quadros de bronquiolite (inflamação das pequenas vias aéreas dos pulmões) ou para pneumonia (infecção dos pulmões).
“Uma a duas em cada 100 crianças com menos de 6 meses de idade com infecção por VSR podem precisar ser hospitalizadas. Aquelas que estão hospitalizados podem precisar de oxigênio, intubação e/ou ventilação mecânica [ajuda na respiração]. A maioria melhora com esses tipos de cuidado de suporte e recebe alta em poucos dias”, acrescentam o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
Em situações que não necessitam de internação para receber oxigênio, o procedimento é apenas de suporte. Baseado em manter a hidratação e medicamentos para febre e dor, quando necessários. No entanto, os pais ou cuidadores devem procurar o aconselhamento de um profissional da saúde antes de oferecer qualquer medicamento para as crianças.
Não há uma vacina para o VSR. A prevenção é feita da mesma maneira de outras patologias que são propagadas pelo ar. No caso de crianças mais velhas, pode-se adotar o uso de máscara. No entanto, é recomendável que os bebês permaneçam afastados de pessoa que apresentem sintomas de gripe.