A meningite aparece, de tempos em tempos, nos noticiários, em surtos em determinadas regiões. O alerta, no entanto, agora é emitido na Bahia, após dois anos de subnotificação decorrente da pandemia de covid-19, houve um aumento de 197% nos casos confirmados de todos os tipos de meningite em comparação ao ano de 2021 (396 contra 133).
O número de mortes provocadas pela doença também aumentou: de 25 em 2021 para 66 em 2022, representando um aumento de 164%.
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), o motivo pelo qual houve o aumento é a subnotificação, que também ocorreu com outras patologias quando a pandemia estava em seu auge.
“Além das medidas de isolamento, de todas as medidas para minimizar a transmissão, a gente teve uma subnotificação também de casos da rede. Teve um momento em que o mundo inteiro estava mais voltado ao controle da covid-19”, informa a coordenadora de Imunizações e Doenças Imunopreveníveis do órgão, Vânia Rebouças.
“Quando a gente faz uma comparação com os anos antes da pandemia, não observa aumento”, continua.
A meningite é considerada uma doença endêmica no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o que significa que há casos durante todo o ano, mas com surtos e epidemias ocasionais. Em regra, as meningites bacterianas são mais frequentes no outono-inverno, ao passo que as virais são mais comuns na primavera e no verão.
“O que mais interessa para a vigilância é a questão das meningites bacterianas, pelo potencial de gravidade e transmissibilidade das doenças. Depois delas, as virais. Para as bacterianas, temos vacinas. Para as virais, não. Com elas, o tratamento é da sintomatologia”, afirma Vânia.
Todavia, ela salienta que, em comparação ao período anterior à pandemia, não houve um aumento significativo. Em 2018 e 2019, ocorreram 381 e 409 casos, respectivamente. A meningite meningocócica, uma infecção bacteriana aguda grave, seria um dos exemplos. Em 2022, foram 10 casos confirmados no estado, enquanto houve 25 e 41, respectivamente, entre 2018 e 2019.
“É preciso manter a vigilância constante porque casos de meningite podem ser potencialmente graves. Então, (o aumento) é um agravo que é endêmico, o que significa que, hoje, não tem nenhum surto de meningite na Bahia. Não podemos comparar dados epidemiológicos com os anos da pandemia, porque foi atípico, além das próprias medidas de isolamento social, como o uso de máscaras, que teve a diminuição de circulação de vírus e bactérias”, salienta a coordenadora.
Em outras palavras, as medidas de prevenção da covid-19 também podem ter ajudado na redução das notificações de alguns tipos de meningite. Segundo a neurologista Roberta Kauark, médica preceptora da residência em neurologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes) e doutoranda em Ciências da Saúde.
“Nas bacterianas, de modo geral, o contágio é respiratório, por gotículas. Então, se você faz essa prevenção por máscaras, também reduz, além da subnotificação”, explica a neurologista.
A queda da vacinação tem sido apontada como um dos motivos para o aumento de casos de meningite em 2022, em outros estados, porém, na Bahia, como o perfil de ocorrência tem se sido o mesmo em comparação aos anos anteriores à covid, não é uma das principais causas, conforme Vânia Rebouças, da Sesab.
No entanto, nos últimos anos, a cobertura vacinal de crianças têm caído de forma geral e preocupado pediatras e epidemiologistas.
“Hoje, na rede pública, temos dois tipos de vacina. Uma é a da meningite C, que está no calendário básico, com a primeira dose aos três meses de idade, a segunda aos cinco meses e um reforço a partir de um ano”, diz Vânia. Na Bahia, 71,37% das crianças menores de um ano estão imunizadas.