“Cura gay”: Advogada baiana relata experiência com os métodos promovidos por igrejas evangélicas

Milla Magalhães, advogada e natural de Itabuna, Bahia, ganhou visibilidade esta semana após compartilhar nas redes sociais sua experiência traumática com a chamada “cura gay“. O relato foi feito durante a live Fervo das Cores, transmitida na última quinta-feira (27).

De origem cristã e vinda de uma adolescência repleta de restrições, Milla revelou as dificuldades para exercer sua sexualidade com liberdade. Sua trajetória com métodos de “cura” começou quando seus pais se tornaram frequentadores de igrejas evangélicas. Aos 13 anos, foi chamada “para conversar” por um pastor devido a seu comportamento, considerado inadequado aos padrões tradicionais de feminilidade. Hoje, Milla se identifica como uma mulher lésbica.

“É um problema maior do que as pessoas fora da igreja podem imaginar”, afirmou Milla. “Existem lugares onde esse tipo de situação é normalizada e pessoas são até excomungadas [por serem gays]”.

Vigilância e orientações

Após o primeiro contato com a igreja, Milla relatou que foi submetida a uma vigilância constante. Recomendações incluíam o celibato voluntário e cursos designados para “consertar” sua orientação sexual. Em eventos organizados pela igreja, a atmosfera era de pura rejeição a qualquer sexualidade que não se enquadrasse na heteronormatividade.

“A sensação era de constante rejeição e a impressão de que isso era completamente banalizado pela comunidade religiosa”, disse ela.

As consequências da “cura”

Para Milla, as iniciativas não afetam apenas o indivíduo no aspecto psicológico, mas também excluem pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ de círculos sociais, impactando de forma profunda suas vidas.

“A gente pode ser extremamente tóxico e cometer coisas horríveis, atrocidades, quando fica cego para aquilo que está sendo imposto”, alertou Milla.

Um novo capítulo

A coragem de Milla para falar sobre o tema foi influenciada pela proposta de um projeto de lei da deputada federal Erika Hilton (PSOL/SP), que busca classificar a “cura gay” como tortura, e pela morte da influenciadora Karol Eller.

“Foi a primeira vez que vi o Congresso Nacional discutir a criminalização de ‘curas’ gays… e senti que era o momento para falar”, concluiu ela.