A fala infeliz de Sikêra Jr. na edição de sexta-feira (25) do Alerta Nacional já começa a impactar nos caixas da RedeTV! e da TV A Crítica: três empresas cancelaram os contratos de patrocínio e anúncios após o apresentador chamar os homossexuais de “raça desgraçada”.
A construtora MRV, que pertence a Rubens Menin, dono da CNN Brasil, fazia anúncios de seus empreendimentos com frequência no jornal policial comandado por Sikêra Jr. e, nesta segunda-feira (28), comunicou que não investirá mais no programa da RedeTV!.
“A MRV acredita na diversidade e não compactua com qualquer forma de preconceito. O programa Alerta Amazônia/Nacional já não faz mais parte dos nossos planos de mídia”, disse a empresa em nota.
A Tim, empresa de telefonia móvel, encerrou na semana passada o acordo comercial com a RedeTV! e a TV A Crítica, deixando de anunciar seus serviços no telejornal.
“Desde a semana passada, realizamos a suspensão da veiculação, que é automática pela plataforma de anúncio, nesse canal. Reforçamos que a Tim mão está ligada a movimentos, nem compactua com disseminação de notícias falsas e discursos de ódio”, disse a empresa.
Quem também retirou os investimentos em ações de merchandising foi a HapVida, empresa de plano de saúde que atua no Norte e Nordeste do país.
“Não apoiamos forma alguma de preconceito, seja social, de credo, raça, gênero ou orientação sexual. No momento, suspendemos o patrocínio do Alerta Amazonas. Estamos sempre trabalhando por uma sociedade mais saudável”, informou a empresa.
O Magazine Luiza, que nunca anunciou no programa da RedeTV!, informou que bloqueou no YouTube a veiculação automática de anúncios que a rede social colocava nos vídeos do programa Alerta Nacional, publicados no canal da TV A Crítica.
“O Magalu é contra qualquer forma de LGBTfobia e nunca admitiremos isso. Não patrocinamos o programa, mas havia anúncios sendo exibidos de forma automática pelo YouTube no canal. Eles já foram bloqueados e não serão mais exibidos”, disse a empresa pelas redes sociais.
Apologia à homofobia
Sikêra Jr. caiu em desgraça ao usar de sua verborragia para criticar a nova campanha do Burger King, em que crianças de diferentes idades são entrevistadas e explicam que é normal ver homens e mulheres do mesmo sexo juntos. Algumas delas têm pais que são gays.
“A criançada está sendo usada. Um povo lacrador que não convence mais os adultos e agora vão usar as crianças. É uma lição de comunismo: vamos atacar a base, a base familiar, é isso que eles querem. Nós não vamos deixar”, afirmou Sikêra no programa exibido na última sexta.
A campanha sofreu forte rejeição do público conservador e virou alvo de redes bolsonaristas. Sikêra foi uma das vozes que criticou o comercial.
“Vocês são nojentos. A gente está calado, engolindo essa raça desgraçada, mas vai chegar um momento que vamos ter que fazer um barulho maior. Deixa a criança crescer, brincar, descobrir por ela mesma. O comercial é podre, nojento. Isso não é conversa para criança”, continuou.
Nova ação judicial
A Aliança Nacional LGBTQI+ afirmou que vai entrar em contato com todos os patrocinadores do programa Alerta Nacional, da RedeTV!, no intuito de assegurar que o telejornal não vire palco para “difamação e pânico moral”. “Esse senhor é recorrente em suas mentiras, ataques e agressividades. Entraremos na Justiça. LGBTfobia é crime, sim”, avisa Eliseu Neto, coordenador de Advocacy da Aliança LGBTI, em nota.
O ativista Antônio Isupério chegou a abrir representações no Ministério Público Federal e no do Estado do Amazonas contra Sikêra Jr. Ele acredita que os indícios são suficientes para que o jornalista seja preso.
Famosos também usaram suas redes sociais para protestar contra as falas do apresentador. A atriz Samantha Schmutz disse que “nojo é o que temos por você [Sikêra]”. A atriz Dira Paes escreveu que estava vendo um “horror”.
A apresentadora Astrid Fontenelle provocou e disse que apenas “o tempo vai dizer para esse senhor muita coisa! E bora almoçar Burger King hoje”. O ator Bruno Gissoni disse que Sikêra Jr. é “um imbecil”. Nomes como Marcelo Adnet, Ana Paula Renault e Rachel Sheherazade também o criticaram.