A taça Jules Rimet sempre foi cercado de histórias. Na Copa de 1970, a Seleção Brasileira conquistou a sua posse definitiva após o tri mundial. Em 1983, o símbolo da glória do futebol foi roubado da sede da CBF e acabou derretido. Escândalo. Três anos depois, a CBF recebeu outro troféu, oferecido pela Fifa para substituir o primeiro. Hoje, pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) estão levando adiante a mística ao construir uma réplica com uma técnica inovadora de impressão 3D em metal. Depois de pronta, a taça será doada para a CBF para comemorar os 50 anos da conquista no México, celebrados em 2020.
Os especialistas do Laboratório de Processos Avançados e Sustentabilidade (LAPRAS) desenvolveram uma nova tecnologia de impressão 3D em metais. A grosso modo, é uma impressora 3D que utiliza o metal como matéria-prima – o processo tradicional usa o plástico.
Para a produção da taça, o laser vai fundindo o metal em pó em temperaturas superiores a 1.700º C e esculpindo a peça no formato desejado. Nas impressoras que usam plásticos (polímeros), as temperaturas chegam apenas a 200º C. A taça vai demorar entre oito a dez horas para ficar pronta. É a primeira máquina brasileira que faz o processo híbrido, ou seja, deposita o metal (aço inox) e também faz a usinagem para o acabamento. O projeto de pesquisa já dura dois anos.
A réplica será produzida em tamanho natural. A taça original, feita de prata esterlina revestida de ouro, mede 35 centímetros e pesa cerca de 3,8 quilos. No centro, a deusa Nike segura uma figura octogonal que representa a vitória, a força e a velocidade. A base azul tem pedras semipreciosas incrustadas. A réplica será feita em aço inoxidável e banho de ouro.
O projeto, financiado pela Fapesp, a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, foi um dos destaques do 1.º Workshop de Manufatura Híbrida, realizado em São Carlos e que contou com a presença dos principais centros de pesquisa do País. O evento marcou a doação da impressora 3D de metais, avaliada em R$ 2 milhões, pelas Indústrias Romi à Escola de Engenharia de São Carlos.
A fabricação digital, ou fabricação aditiva, está transformando os processos de fabricação e produção. A tecnologia pode ser aplicada em diversas situações. Na área médica, pode servir para prótese humana, por exemplo. “Podemos fabricar peças complexas em materiais metálicos, os mais diversos possíveis, com uma rapidez maior. Isso não era possível anos atrás”, explica Reginaldo Teixeira Coelho, coordenador do LAPRAS.
Falar da Jules Rimet é despertar a paixão de torcedor de cada brasileiro, inclusive dos pesquisadores. É um objeto que ultrapassa a discussão sobre os avanços da tecnologia e da ciência. “Eu tinha sete anos quando o Brasil ganhou a Copa. Foi uma festa imensa no bairro. É uma honra fazer uma réplica da taça com uma tecnologia de última geração”, afirma o professor Coelho.
Kandice Barros, aluna de doutorado em Engenharia Mecânica e participante da pesquisa, explica que o projeto é multidisciplinar. “É um processo novo, poucas universidades no mundo estão pesquisando essa área. Um projeto assim envolve mais que desenho. É uma forma de celebrarmos a Copa de 1970 e conquistar a nossa Copa do Conhecimento”, diz.