Em meio a polêmicas com familiares e advogados sobre as indenizações pela tragédia do Ninho do Urubu, o Flamengo entrou em consenso com uma das famílias das 10 vítimas fatais no incêndio no CT. O presidente Rodolfo Landim, que pediu 15 dias de licença do cargo para uma “viagem particular” e não estará na estreia do time na Libertadores, fechou o acordo antes de deixar o Rio de Janeiro. A identidade dos parentes está sendo mantida sob sigilo por motivos de segurança.
O GloboEsporte.com apurou que outras três famílias, que vêm mantendo conversas com a diretoria, também estão próximas de um acerto. Depois do imbróglio envolvendo a pedida do Ministério Público e a mediação na Justiça, o Flamengo partiu para negociações individuais com os familiares. Os acordos que estão sendo fechados incluem ajudas de custo mensais, como havia sugerido pelo MP, mas com prazos diferentes a partir de 10 anos.
Os valores também estão mantidos sob sigilo, mas segundo uma fonte interna são “muito superiores ao que foi divulgado pelo Ministério Público do Trabalho”, que revelou na semana passada que a primeira proposta rubro-negra foi de R$ 300 a R$ 400 mil de indenização e um salário mínimo (atualmente de R$ 998,00) por mês. Na mediação na Justiça, a oferta do clube chegou a R$ 700 mil, mas os valores também não agradaram aos familiares e advogados.
Porém, outras famílias ainda estão longe de um acordo. Alguns familiares saíram revoltados do último encontro na Justiça na semana passada, como por exemplo Uelisson, pai de Pablo Henrique; Marília, mãe de Arthur Vinicius; e Cristiano, pai de Christian Esmério, que criticou a postura do clube dizendo: “Estão brincando com a vida dos nossos filhos”. Danrlei, pai de Bernardo Pisetta, deu as negociações como encerradas. Parentes dos três feridos no incêndio ainda não foram procurados.
As negociações pelas indenizações começaram no dia 18, 10 dias após a tragédia. O valor proposto por Ministério Público Estadual, Ministério Público do Trabalho e Defensoria Pública foi de R$ 2 milhões, além de R$ 10 mil mensais por mais 30 anos. O Flamengo não concordou com as cifras e, em nota oficial, disse que ofereceu valores maiores que os padrões. Em sua primeira entrevista coletiva após a tragédia, Landim defendeu a proposta do clube:
– É sem precedentes na história do nosso país. O que nós estamos propondo não houve na história do nosso país. O que foi colocado antes do processo de mediação foi um piso de discussão, que nós entendemos que é muito acima de toda e qualquer decisão que aconteceu. O Flamengo quer equacionar com valores acima, mas que já são o dobro da jurisprudência. O que não quer dizer que, se pedirem 10 vezes, 100 vezes o valor da jurisprudência, nós iremos aceitar.
No dia 8 de fevereiro, 10 jogadores das categorias de base do Flamengo, entre 14 e 17 anos, morreram: os goleiros Bernardo Pisetta e Christian Esmério; os zagueiros Arthur Vinicius e Pablo Henrique; o lateral Samuel Rosa; os volantes Jorge Eduardo e Rykelmo Viana; e os atacantes Athila Paixão, Gedson Santos e Vitor Isaías. Outros três ficaram feridos: Cauan Emanuel, Francisco Diogo e Jonathan Ventura, único que ainda está internado.
O Flamengo assumiu a responsabilidade pela tragédia, considerada a maior da história do clube, mas não a culpa. O clube alega que tinha disjuntores para cada aparelho de ar-condicionado, onde começou o incêndio, e atribui à pane elétrica causada pelo temporal que caiu dias antes no Rio. Porém, o Ninho do urubu não tinha alvará do Corpo de Bombeiros para ter alojamento no local e nem o habite-se da prefeitura, que interditou o CT na última terça-feira.