Jeremoabense Jemerson ainda sonha com a Seleção; leia entrevista

Última grande revelação da base do Atlético, clube pelo qual jogou de 2010 a 2016, o zagueiro Jermerson esteve muito próximo de disputar a Copa do Mundo de 2018 pela seleção brasileira. Porém, a má fase em que o Monaco se enfiou nas duas últimas temporadas fez com que ele fosse preterido por Geromel, do Grêmio, no elenco que Tite levou para a Rússia.

Ainda no início de sua quarta temporada no clube do principado, o zagueiro conversou com a reportagem do SUPERFC e revelou segredos sobre os tempos em que atuou no Galo ao lado de Ronaldinho. Jemerson fez parte do elenco campeão da Copa Libertadores de 2013 e foi titular na Copa do Brasil de 2014 e na Recopa Sul-Americana do mesmo ano. Vendido no início de 2016 para o Monaco por 11 milhões de euros (cerca de R$ 50 milhões atualmente), o jogador revelou quem são os atacantes mais difíceis de marcar e casos que vivenciou no futebol brasileiro e europeu.

Como é sair de Jeremoabo, na Bahia, e ir morar em Monaco? Como você encarou essa mudança, tanto pessoal quanto profissionalmente?

É uma mudança muito grande, se for pensar em tudo o que já passei. Saí de Jeremoabo e fui pra Sergipe, de lá pra Belo Horizonte, e depois pra Monaco. Cada mudança dessas foi um choque, no bom sentido, porque são lugares muito diferentes, mesmo dentro do Brasil. Quando vim para Monaco, então, sem saber falar a língua, foi um baque muito grande. Mas foi o desafio que eu quis enfrentar. Conquistei grandes coisas aqui e espero continuar conquistando.

Você jogou com o Ronaldinho no Atlético. Quando fala o nome dele, qual a primeira lembrança que vem à sua cabeça?

A primeira história que me vem à cabeça é a conquista da Libertadores. Depois do título, ele fez questão de convidar todo mundo para comemorar com os familiares e amigos dele, na casa dele. Eu já fazia parte do grupo, mas não esperava. E ele fez questão que eu fosse. Foi uma atitude muito bacana.

Como foi jogar com um jogador como ele e em que ele mais te impressionava?

O que mais impressiona todo mundo é a humildade dele. Já era um cara que tinha ganhado tudo na carreira: Copa do Mundo, Champions League e título de melhor jogador do mundo. E, mesmo assim, tratava todo mundo bem, conversava com todo mundo, enfim. É uma pessoa muito bacana de conviver.

Você é um jogador privilegiado. Já jogou com e contra excepcionais jogadores, como Ronaldinho Gaúcho, Neymar, Mbappé, entre vários outros. Como você vê isso?

Como você disse, é um privilégio. Trabalhei muito pra chegar até aqui, jogar em um grande clube da Europa e disputar competições grandes, contra os melhores do mundo. Um pouco de sorte também, porque no caminho tive a oportunidade de estar também ao lado desses caras, além de outros que admiro muito. Espero que continue assim por muito tempo.

Se você tivesse que eleger o melhor jogador com quem já jogou e também um que enfrentou, quais seriam?

O melhor que eu joguei junto foi o Ronaldinho. Ele fazia coisas que ninguém esperava que alguém fosse capaz de fazer. Durante a semana, nos treinamentos, e nos jogos. Era um cara diferente. Mesma coisa é o Neymar. Agora, dos que eu joguei contra, o Guerrero. É um jogador muito difícil de ser marcado, usa bem o corpo para proteger a bola e é matador.

Mesmo jogando na Europa, você segue acompanhando o futebol brasileiro? E o Galo? Mesmo longe você ainda assiste aos jogos, tem contato com os jogadores e o clube?

Acompanho sempre que posso e os horários não atrapalham. Às vezes fica muito tarde pra assistir, mas acabo lendo as notícias. Hoje, eu não sou só um jogador que passou pelo Galo, sou um torcedor mesmo. Tinha bastante contato com alguns jogadores da minha época que ainda estão por lá, mas já faz um tempinho que a gente não se fala. Mas a torcida por eles e a amizade continuam iguais.

Quando você saiu do Atlético, o time apenas sonhava em ter um estádio. Agora, as obras estão prestes a começar. Qual a importância para um clube ter um estádio próprio?

Acho que muda o patamar do clube. Cria uma ligação ainda mais forte com a torcida e pode inflamar muito o time na busca por títulos grandes. Com certeza, seria muito bom pro Galo e para Belo Horizonte também.

Apesar do momento atual e de todas as pretensões que você tem na carreira, você pensa em voltar a jogar pelo Galo? É um desejo seu? E do que você mais sente saudade do clube?

No futebol é complicado, porque, às vezes, os objetivos do clube e os seus não são os mesmos quando surge a oportunidade. E isso vale para as duas partes, jogador e clube. Eu tento não ficar pensando nisso, foco no presente e no que tenho que fazer hoje. Se um dia pintar a chance, vamos sentar e conversar para ver o que acontece, mas seria uma alegria muito grande pra mim voltar a vestir a camisa do Atlético.

Você está com 26 anos, ou seja, está chegando ao que é considerado o auge físico e técnico de um jogador. Quais os seus objetivos imediatos na carreira, e no médio e no longo prazo?

Ainda tenho compromisso com o Monaco por mais um tempo e, depois, ainda não sei. Gostaria de jogar mais um tempo na Europa, mas não gosto de ficar pensando muito lá na frente, porque isso acaba tirando o foco. Além disso, no futebol, tudo muda muito rápido, então não sei o que vai acontecer. Quando chegar a hora de pensar nisso de uma forma mais objetiva, vou sentar com o meu empresário e decidir.

Logo em seu primeiro ano na Europa, você foi exaltado e até pretendido por outros grandes clubes do futebol europeu. Como foi ver seu nome em pauta nos principais times do planeta e o que de real chegou de proposta até você?

Foi muito bacana ter esse reconhecimento. Minha primeira temporada completa aqui na França foi muito boa. Fizemos uma campanha incrível na Champions League, perdemos a semifinal para um time que estava voando, a Juventus, e ainda conquistamos a Ligue 1, quando todo mundo apostava no PSG. Isso valorizou muito o nosso time, tanto que poucos daquela época ficaram. De proposta, mesmo, chegaram algumas coisas que acabaram não indo pra frente.

Porém, depois desse primeiro ano, você, juntamente com todo o time, passou por uma péssima temporada. Como foi viver esses altos e baixos no futebol europeu?

Os altos e baixos são complicados. A gente precisa aprender muito com as derrotas, não deixar se abater. Infelizmente, às vezes as coisas não dão certo. Espero que essa temporada seja bem melhor que a passada e a gente possa fazer uma campanha digna da história do Monaco.

Como é a cobrança da torcida e dos diretores em relação aos maus resultados? Em comparação com o futebol brasileiro é muito diferente?

A cobrança é sempre grande quando você está jogando em alto nível. Aqui não é diferente. Se o resultado não vem, somos cobrados pela torcida e pela diretoria. A única diferença é que aí no Brasil, às vezes, as coisas vão para um lado que não é muito legal, de violência e intimidação. Isso não resolve nada.

Para este ano, uma das principais contratações do Monaco foi o zagueiro brasileiro Naldo. Por mais que a língua do futebol seja universal, é mais fácil jogar com um brasileiro?

É sempre bom ter brasileiros no time. O Naldo é um cara muito experiente e que tem muita vivência no futebol. Sem dúvida, ajuda muito nossa equipe e facilita bastante. Quando cheguei aqui, os brasileiros do time me ajudaram muito. Vágner Love (hoje no Corinthians), Fabinho (atual destaque do Liverpool campeão europeu), Boschilla… Todos foram muito importantes na minha adaptação.

Hoje o Monaco tem um time com vários jogadores renomados. O que falta para o time voltar a brilhar tanto na França quanto nas competições continentais?

É difícil dizer, ainda mais depois de uma temporada tão complicada. A gente precisa tirar lições do que aconteceu. Acho que, no fim das contas, tudo passa pela confiança dos jogadores. Precisamos retomar isso, e essa confiança só vem com resultados. É trabalhar duro para conquistá-los. Assim, as coisas vão fluir melhor.

Antes da Copa do Mundo da Rússia, no ano passado, constantemente seu nome aparecia em convocações para a seleção, porém já tem um certo tempo que isso não acontece. A que se deve essa ausência e como recuperar esse espaço com o técnico Tite?

A concorrência na seleção é sempre muito grande. Ainda mais na minha posição. O que preciso é me manter focado e fazer um bom trabalho aqui pra voltar a ser chamado. Acho que a receita é essa.