O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) deflagrou nesta quinta-feira (17) uma operação que busca prender o líder religioso Jair Tércio Cunha Costa, de 63 anos, denunciado por violência de gênero. A ação, chamada “Fariseu”, também cumpre mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele.
Segundo informações do MP-BA, o “guru espiritual” foi denunciado por crimes contra 4 vítimas. Ele poderá responder por três tipos penais: violação sexual mediante fraude, relação sexual com menor – que configura o crime de estupro de vulnerável – e lesão corporal por ofensa à integridade mental. Segundo o MP, uma eventual pena pode superar os 30 anos de prisão.
O líder religioso não foi localizado e, até a última atualização desta reportagem, era considerado foragido. A defesa dele afirma que a relação com as mulheres que o denunciaram aconteceram de forma consensual.
“Nos ofereceram dois possíveis endereços que ele poderia ter o domicílio, e hoje pela manhã, com a autorização da Justiça, nós fomos até lá. Foram feitas algumas diligências nos dois locais e ele não foi encontrado”, disse a promotora de Justiça, diretora do Grupo Especial de Defesa da Mulher do MP-BA, Sara Gomes.
A operação tem a participação dos Grupos de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e de Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem) do MP, e da Secretaria de Segurança Pública e Polícia Civil, por meio do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) e da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam).
A denúncia, apresentada nesta quinta pelo MP, se baseou em investigação que mostrou indícios de crimes de violência de gênero.
“A denúncia hoje diz respeito a quatro vítimas e diz respeito a três tipos penais: a violação sexual mediante fraude, o estupro de vulnerável e a lesão corporal com ofensa e integridade mental das vítimas”, explicou Sara Gomes.
As denúncias de abusos sexual e psicológico contra o líder espiritual foram divulgadas pelo órgão no início de agosto. Jair Tércio é ex-grão-mestre de uma loja maçônica na Bahia e desenvolvedor de uma doutrina pedagógica que é estudada em retiros espirituais promovidos por ele toda semana.
Homem se proclamava ser iluminado
De acordo com as apurações do Ministério Público, o investigado se autoproclamava um ser iluminado e se inseria em ambientes sociais, onde fazia um trabalho preliminar, rotulado como “despertar do ser humano”, para então, aproveitando-se da relação de confiança adquirida, submeter as vítimas a atos de violência de ordem sexual, moral e psicológica.
“Como ele se intitulava alguém com uma superioridade religiosa, espiritual, filosófica, essas pessoas se aproximavam dele, inclusive menores de idade, as vezes no momento de fragilidade maior, emocional, em um momento de dificuldade familiar, enfim havia várias situações em que as pessoas o procuravam justamente para ter um apoio e acabavam por serem de alguma forma seduzidas, porque elas tinham nele alguém a quem respeitar, que poderia ser um mestre, um guia, um guru”, contou a promotora de justiça.
O Ministério Público informou que outras 21 mulheres manifestaram o desejo de apresentar denúncias.
“Como há crime continuado e existem situações que tem vítimas que são dois delitos diferentes, se a gente somar é possível que passe de 30 anos, mas isso vai depender da Justiça após instrução criminal comprovar o que foi levantado na denúncia e o juiz é que fica responsável pela dosimetria da pena, variando a situação subjetiva de cada caso”.