O advogado de Melina Esteves França, patroa acusada de agredir uma babá e várias funcionárias no Imbuí, diz que a cliente sofre de transtorno de personalidade boderline. Em entrevista ao Fantástico do domingo (4), o defensor Marcelo Cunha afirmou que Melina tem “pavio curtíssimo”.
“As agressões surgiram por proteção materna. Qualquer mãe faria igual ou pior, não estou aqui justificando”, disse Cunha. “Melina tem um transtorno psicológico. Ela não consegue se controlar. Ela tem um pavio curtíssimo. Qualquer afronta, qualquer estrago, qualquer outra coisa, ela transforma como se fosse o fim do mundo”, acrescenta.
O transtorno de personalidade boderline é caracterizado por instabilidade nos relacionamentos, com flutuações extremas de humor e impulsividade. O diagnóstico é feito por avaliação clínica de um profissional como psicólogo ou psiquiatra.
A versão de que a babá Raiana Ribeiro, 25 anos, tenha agredido uma das três filhas de Melina é negada por ela, que diz que jamais bateu em nenhuma das crianças.
Doze mulheres já prestaram queixa contra Raiana à Polícia Civil. As agressões à 12ª vítima, uma idosa de 61 anos, foram registradas em julho deste ano na Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (Deat). Agora são três unidades policiais que investigam a conduta da ex-patroa – além da Deat, foram registradas ocorrências na 9ª Delegacia (Boca do Rio) e na 12ª Delegacia (Itapuã).
“Todo dia eu peço a Deus que ela possa pagar pelo que ela fez comigo e com essa senhorinha de 60 anos e o que ela fez com as outras. Que ela não faça isso com mais ninguém, porque ninguém merece passar pelo que a gente passou”, afirmou Raiana ao Fantástico.
Melina foi ouvida pela polícia sexta e depois liberada.
Relembre o caso
Raiana Ribeiro trabalhava cuidando de crianças em um apartamento no Edifício Residencial Absolutto quando caiu do terceiro andar. Socorrida para o Hospital Geral do Estado (HGE), ela prestou depoimento no posto policial da unidade e disse que pulou da janela para fugir da patroa.
Segundo a funcionária, ela foi agredida e trancada em um cômodo da casa, após ter seu celular tomado pela patroa. Tudo teria começado quando ela avisou que queria deixar o emprego após uma semana de contratada.
Raiana conversou com o CORREIO na noite da última quarta-feira (25) e relatou os momentos traumáticos que viveu. Natural do município de Itanagra, a 120 km de Salvador, ela disse que viu o anúncio de emprego em um site e decidiu se candidatar.
Após contato com a anunciante, a babá trocou informações e após algumas chamadas de vídeo foi contratada para trabalhar. “Depois que eu vi o anúncio, entrei em contato, e o acordo era trabalhar integral e folgar a cada 15 dias”, disse Raiana.
No entanto, após iniciar o trabalho, Raiana conta que recebeu nova proposta de emprego e que após comunicar à patroa, passou a ser ameaçada. “Quando eu pedi para sair do trabalho, ela respondeu: ‘eu quero ver se você vai embora. Eu não sou vagabunda. Você não vai embora”, lembrou a babá.
A ameaça, de acordo com Raiana, teria ocorrido na terça-feira (24). A babá teria pedido socorro à irmã, pelo telefone. A irmã de Raiana então entrou em contato com uma tia que mora em Salvador. Após o contato, um homem teria ido até o prédio onde Raiana trabalha, mas após fazer contato pelo interfone, a patroa disse que Raiana não estava no local.
Nesta quarta-feira (25), uma pessoa voltou no prédio a pedido da tia de Raiana para procurar a jovem, segundo ela, desta vez, a patroa arrancou a fiação do interfone para evitar o contato. Sem contato externo, Raiana diz que foi trancada no banheiro. Desesperada, ela tentou fugir pelo basculante.
“Ela me trancou no banheiro, ai vi o basculante e decidi fugir para alcançar a janela do apartamento do lado e lá pedir ajuda, mas aí não consegui e fiquei pendurada. Aí depois, eu caí”, conta. Ela caiu dentro de um apartamento localizado no primeiro andar e foi socorrida. Raiana fraturou o calcanhar, e levou pontos na testa, além de ter ficado com alguns hematomas no corpo. Ela teve alta no mesmo dia.
Mas o comportamento agressivo de Melina Esteves França com trabalhadores domésticas tem relatos desde 2018, pelo menos, quando ela ainda morava em Piatã. Um grupo de ex-funcionários foi à 9ª Delegacia para prestarem depoimento sobre as ameaças de cárcere e agressões físicas e verbais na última sexta-feira (27).