O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já selou acordo com dois partidos da base do governo de Michel Temer e tenta traçar uma agenda de viagens pelo país para viabilizar sua candidatura ao Palácio do Planalto.
As conversas com PP e Solidariedade começaram a ganhar corpo há pouco mais de dois meses, às vésperas da votação da segunda denúncia contra Temer na Câmara.
Naquela metade de outubro, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), foi à residência oficial do presidente da Câmara e ofereceu apoio de seu partido a qualquer projeto político que ele tivesse para as eleições de 2018.
Ele argumentava que não endossaria nenhum movimento para derrubar Temer e levar o deputado naquele momento ao Palácio do Planalto -mas a dupla selava ali um acordo que os unia em um projeto ainda mais ousado: a candidatura de Maia à Presidência da República.
O encontro foi o embrião de negociações que se intensificaram nos meses seguintes. Desde então, Maia passou a admitir explicitamente, em conversas reservadas, que tentará construir uma aliança para se lançar à sucessão de Temer em outubro.
O presidente da Câmara decidiu procurar empresários e outros partidos para dar sustentação a essa candidatura, além de traçar uma agenda de viagens para se tornar mais conhecido e elaborar discurso para conquistar o voto do eleitor de centro.
Nas últimas semanas, Maia discutiu essa potencial campanha em novas conversas com a cúpula do PP e com dirigentes do Solidariedade.
Na sexta-feira (5) em São Paulo, o presidente da Câmara se reuniu com um dos principais entusiastas de sua candidatura, o deputado Paulinho da Força (SD-SP).
"Há um espaço no eleitorado de centro, principalmente diante das dúvidas em torno do ex-presidente Lula. Como Maia tem boa relação com diversos partidos, esse espaço pode ser viabilizado com ele", afirmou Paulinho.
A estratégia é procurar as siglas aliadas ao Planalto, principalmente as do centrão, e encurralar uma possível candidatura do ministro Henrique Meirelles (Fazenda). Desde o fim do ano passado, o chefe da equipe econômica de Temer tenta se consolidar como o candidato da coalizão governista.
A aliados, o presidente da Câmara afirmou que não fará nenhum movimento mais assertivo até a votação da reforma da Previdência, marcada para 19 de fevereiro. Quer evitar o que considera um erro de Meirelles: falar como candidato em meio às negociações da proposta.
Seu primeiro teste público será no dia 6 de fevereiro, durante a convenção nacional de seu partido, o DEM.
Maia não quer se lançar candidato, mas vai aproveitar o evento para tentar dar corpo a um discurso próprio, em que defende as mudanças nas regras de aposentadoria -bandeira de Temer-, ao mesmo tempo em que tenta se distanciar da pauta exclusivamente econômica do presidente.
A tese de Maia é simples: mesmo que seja apoiado pelo Planalto, o candidato de centro não pode pertencer ao núcleo do poder, para que tenha independência quando for preciso criticar um governo que sempre teve baixíssimos índices de aprovação.
Apesar dos esforços para construir o discurso e a aliança política, Maia ainda precisa vencer seu principal desafio: a conquista de voto. Ele marcou apenas 1% na última pesquisa Datafolha em que seu nome foi testado.
Para isso, quer participar de atos pelo país, mas procura justificativa para que o giro não pareça apenas eleitoral.
Um de seus aliados próximos, o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) sugeriu que Maia viaje o Brasil com o discurso de que vai medir a temperatura das bancadas em relação à reforma da Previdência -o governo ainda não tem os 308 votos necessários para aprová-la na Câmara.
JOGO PARADO
Os principais defensores da candidatura do presidente da Câmara dizem que o prazo para que ele se viabilize é entre maio e junho.
A data é posterior ao limite para a decisão de Meirelles sobre concorrer ao Planalto -ele precisa deixar o cargo até março caso queira disputar as eleições de outubro.
A jogada de Maia, portanto, pode bloquear os caminhos do chefe da Fazenda e pressioná-lo a desistir da campanha. O centrão hesita em aderir ao ministro.
O cenário com a entrada de Maia na briga por espaço em 2018 pode, por outro lado, beneficiar o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que tenta atrair os mesmos partidos da coalizão governista.
Caso Meirelles esteja fora do páreo e Maia não decole até junho, parte das siglas da base de Temer pretende aproveitar o cacife acumulado nessas negociações para indicar o vice na chapa tucana.