Há pelo menos duas semanas passando por momentos de terror, o sargento da Polícia Militar Wanderley Garcia Xavier, de 42 anos, teve a esposa violentada e quase morta na manhã desta quarta-feira (07). Tudo aconteceu na casa da família na Rua Everton Pugim de Abreu, no Jardim Carmem, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.
Ele estava afastado do trabalho nas ruas, mas fazia serviços administrativos. Enquanto trabalhava, o policial teria recebeu a seguinte mensagem, enviada pelo celular da esposa para o telefone dele: "Dai brother, tá me cassando? Sabe o q nois faz com cagueta? Nois apaga!!!".
Desesperado, o sargento tentou ligar para a esposa e ela não atendeu. “Colegas de trabalho me ajudaram e fomos até em casa. Foi aí que vi a pior imagem da minha vida", contou. Ele encontrou a mulher, de 32 anos, amordaçada e com as mãos amarradas, cercada de sangue. "Ao lado do corpo dela havia também um pedaço de pau, que foi usado para violenta-la. Nos seios dela, escreveram com faca a palavra ‘cagueta’".
A mulher foi encaminhada ao Hospital São José, onde passou por todos os exames necessários e, pelo informado através do sargento, até uma cirurgia. Ela deve ficar internada até se recuperar.
Segunda vez
De acordo com o sargento, essa foi a segunda vez que bandidos invadiram a casa dele. Na segunda-feira da semana passada, dia 28 de setembro, a casa foi toda revirada e a mulher chegou a desmaiar com as agressões dos bandidos. "Eles entraram pedindo por arma. Falavam que sabiam que tínhamos e queriam que ela desse a arma, mas não tínhamos nada, porque eu estava desarmado", explicou.
Wanderley contou que está sem arma por causa de problemas psiquiátricos da esposa. Desde janeiro do ano passado, o sargento estava apenas em funções administrativas em uma companhia do 17º Batalhão. “Pedi afastamento da rua, com isso devolvi minha arma, para poder cuidar dela, que não se recuperou de um acidente que sofremos".
O sargento e a esposa, que têm um casal de filhos, um menino de 8 e uma menina de 15, moravam na mesma casa desde março deste ano. Os vizinhos contaram que sabiam que a mulher sofria de algum problema psicológico, mas disseram que a família sempre foi muito calma.
Ainda segundo os vizinhos, a rotina da família era a mesma. Todos os dias, antes de ir para o trabalho, o sargento leva os filhos para a escola e deixa a mulher em casa. “Nunca reparamos nada de estranho vindo deles, nem tomamos conhecimento de que havia acontecido alguma coisa anteriormente”, contou uma mulher, que não se identificou.
Para os moradores, o que aconteceu na manhã desta quarta-feira foi um susto. Todos disseram também que nunca repararam nenhuma movimentação estranha vinda da casa do sargento.
Desabafo
No hospital, o sargento fez um desabafo e disse que desde o primeiro ataque a casa, ele teria procurado oficiais para recuperar a arma e disse que foi tratado com descaso. "Me disseram que na casa deles não entra bandido, que se eu estava sem arma o problema era meu. O comando não me deu apoio algum".
{relacionadas}Segundo Wanderley, ele encaminhou a documentação necessária pedindo a restituição do porte de arma, por causa das ameaças que estavam acontecendo. "O comandante que me recebeu e não atendeu ao meu pedido. Ele disse que não era responsável pelo problema que estava acontecendo comigo e que eu não poderia ter a arma de novo".
No Facebook, o sargento chegou a fazer um desabafo dizendo que esperava um pedido de ajuda do comando estava sem retorno. “Gostaria de convidar meus amigos e família, que em breve compareçam em meu enterro ou de alguém da minha família, pois estou de mãos atadas e sem condições alguma de me defender e de defender minha família”, disse ele na postagem.
Dúvidas
O crime deixou várias dúvidas. Ainda na manhã desta quarta, várias equipes policiais chegaram e foram embora do local tentando entender o que aconteceu. Para os policiais, pelo menos alguma informação não encaixa com o que diz o sargento, isto por conta da frase na mensagem de texto no celular e da palavra escrita no peito da esposa, que fazem referência a ao termo “cagueta”.
Além das equipes da Polícia Militar, equipes da Polícia Civil e também da Guarda Municipal de São José dos Pinhais permaneceram em frente à casa do policial durante toda a manhã. Perícias do Instituto de Criminalística e do Instituto de Identificação foram feitas de formas detalhadas na casa e nos arredores, em busca de vestígios que pudessem ter sido deixados pelos bandidos. Cães do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) também foram usados.
PM esclarece
A Polícia Militar, através da assessoria de imprensa, disse que imediatamente ao tomar conhecimento dos fatos, equipes policiais deslocaram à residência do policial e prestaram todo o apoio à sua esposa. De acordo com a PM, policiais militares do serviço reservado estiveram no local colhendo informações e continuam em diligências para localização dos autores dos crimes cometidos.
Ainda segundo a assessoria da PM, o sargento Garcia está afastado das atividades operacionais e sem o porte de sua arma por recomendação médica, registrada em atestados. “Ainda, quando o graduado procurou o Batalhão no início desta semana, foi devidamente atendido e orientado pelo setor de pessoal da Unidade, o qual encaminhou documento para que fosse feita reavaliação médica do referido militar”, afirma a nota.
A PM esclareceu ainda que na primeira denúncia das ameaças sofridas pela família do sargento, as equipes do serviço reservado começaram diligências com o intuito de identificar os autores. A polícia deve dar sequência às investigações, procurando as possíveis motivações para os atentados, e também deve fazer a proteção da esposa do policial.