Um relatório da Corregedoria Geral da Justiça da Bahia jogou luz sobre a situação tensa no presídio de Itabuna. Superlotação, regalias para alguns presos e até um plano de invasão foram expostos no documento divulgado nesta sexta-feira (11). A inspeção, que rolou em janeiro, revelou falhas na administração da unidade e até acusações contra uma promotora de Justiça.
A cadeia, que tem espaço para 670 pessoas, está abrigando 822 detentos, entre homens e mulheres. Acontece que a segurança é feita por apenas um policial penal e 268 monitores, um número bem abaixo do necessário para cuidar de tudo. São dois pavilhões, três anexos e 117 celas para vigiar.
E tem mais! O projeto de leitura “RELERE”, coordenado pela promotora Cleide Ramos, está sendo acusado de dar vantagens a certos presos, incluindo Fábio Possidônio, apontado como chefe do tráfico na região e líder da facção Raio A dentro da cadeia. A história é que o projeto não seguia regras claras e beneficiava uns em detrimento de outros.
Ainda segundo o relatório, a promotora estaria interferindo na rotina do presídio, como a exigência de panelas separadas para os participantes do projeto. Eles recebiam refeições especiais em uma sala reservada, ao invés de comer no refeitório junto com os outros. E não para por aí: rolou até uma tentativa de autorizar a entrada de um adolescente de 17 anos para trabalhar no projeto, o que foi barrado pelo diretor.
Outro ponto que chamou a atenção foi a intervenção da promotora durante o transporte de Fábio Possidônio para um hospital. Ela teria entrado na cela do veículo para checar a ventilação, o que não é permitido pelas normas de segurança.
Durante a inspeção, um preso contou que um plano de invasão estava sendo planejado. Homens armados com fuzis e pistolas, vindos de São Paulo e escondidos em Coaraci, invadiriam o presídio para resgatar Jackson Vicente Pereira, um traficante perigoso. Depois, seguiriam para outros presídios e até para o Rio de Janeiro.
E não para por aí! Celulares foram encontrados escondidos em buracos nas paredes, camuflados com pasta de dente. Os presos contaram que os aparelhos são vendidos dentro da cadeia por até R$ 2 mil. Pra completar, as imagens das câmeras de segurança do dia 23 de janeiro sumiram, e o HD foi apreendido para investigação.
Diante de tudo isso, a Corregedoria recomendou que os projetos de leitura sejam revisados, que sejam instalados bloqueadores de sinal e aparelhos de revista corporal para evitar a entrada de celulares. Também foi pedida a transferência de Fábio Possidônio e Jackson Vicente Pereira, a abertura de investigações contra a promotora Cleide Ramos e o aumento da segurança com mais policiais e equipamentos.
A Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) se manifestou, dizendo que segue protocolos de segurança em todas as penitenciárias e que já transferiu Fábio Possidônio e outros líderes da unidade. Sobre as irregularidades, o secretário José Castro determinou uma investigação para apurar responsabilidades.
A Seap ainda informou que cumpre os procedimentos de revista e que o presídio de Itabuna possui um aparelho de raio X corporal para detectar objetos ilícitos. A secretaria garantiu que vai seguir as orientações da Justiça para manter a ordem no sistema prisional.