Um vídeo de duas clientes da rede de lanchonetes Bob’s, no Rio de Janeiro, filmado e publicado por elas, mostra o momento em que destratam um funcionário que fazia a limpeza do local, chamando-o de “f*dido” e mandando ele lamber o chão.
“Isso mesmo, limpa pra eu ver”, “lambe o chão”, diz em determinado momento da gravação, que viralizou nas redes sociais e provocou revolta. As informações são do jornal Extra.
Uma das jovens, identificada como Júllia Rodrigues, e a amiga, Thais Araújo, filmam o rapaz, que é negro, trabalhando enquanto gritam para ele de forma debochada e desrespeitosa.
Júllia ainda publicou mais vídeos, em sua conta no Instagram, após o episódio na lanchonete, afirmando que “não era porque o menino era preto não, porque ainda tem pretos bonitinhos, mas ele é um preto feio e horroroso”.
O vídeo foi publicado no YouTube do jornal O Dia.
A jovem ainda faz menção ao órgão sexual do rapaz e disse que ela e a amiga fizeram um “auê no trabalho do garoto”.
Nas redes sociais, os internautas se revoltaram e classificaram o caso como racismo, pedindo punição as jovens.
Júllia cancelou sua conta no Instagram, enquanto Thais usou a rede social para se posicionar sobre o ocorrido.
A jovem contou que namorou o funcionário da lanchonete por seis anos e admitiu que agiu de forma errada, mas que não considera sua atitude foi racista.
“Eu namorei com esse rapaz durante seis anos da minha vida. São seis anos com ele, não foram quatro dias, não foi uma semana. Eu conheço ele há oito anos. Não é qualquer coisinha não. Ele sabe que não sou racista. Ele está ciente disso. O mesmo sabe que eu sempre lutei contra isso. Qualquer coisinha eu já fazia um “auê”. Eu realmente tomei decisões naquele dia que não foram legais, atitudes horríveis. Por isso estou pedindo desculpas a ele, estou pedindo desculpas para quem se ofendeu, para quem está tomando as dores”, alegou.
Thais ainda disse que estava “fora de si” e ressaltou que o rapaz não foi demitido por conta do caso, como foi dito por alguns internautas nas redes sociais.
Ela publicou ainda fotos ao lado do jovem nos anos de 2014, 2017 e 2019, uma delas beijando o rapaz.
“E não adianta falar agora que não adianta mais. Adianta sim. Quando você se arrepende do que fez, você é perdoado. Eu estou arrependida e quero que isso acabe. Não me mandem mais mensagens. Eu não vou acabar com as minhas redes sociais, eu não fui racista”, observou.
Injúria racial
Ouvida pelo jornal Extra, a professora de Direito Penal e Processo Penal da UFRRJ, Fernanda Freixinho, classificou as declarações das jovens como crime de injúria racial.
“As expressões utilizadas pela autora ofendem a uma pessoa determinada, na sua dignidade e decoro, utilizando elementos referentes à raça e cor. O crime é de ação penal pública condicionada, o que significa que aquele que for ofendido deve manifestar seu desejo de ver o autor do crime processado criminalmente”, explicou à publicação.
Segundo Freixinho, a atitude das jovens não constitui crime de racismo, pois este deve ser praticado contra um grupo de pessoas indeterminadas em razão da sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Posicionamento do Bob’s
Em nota, o Bob’s declarou que “repudia qualquer tipo de discriminação ou assédio e lamenta que cenas como essa, até hoje, ainda sejam vistas nas relações entre pessoas. O funcionário segue trabalhando normalmente na empresa, sendo inverídicas as declarações de desligamento dele. Para preservar sua privacidade, o Bob’s não divulga o local do ocorrido, mas está à disposição para qualquer esclarecimento na apuração dos fatos”.
A Polícia Civil do Rio não informou se o caso foi registrado em alguma delegacia.