São Paulo — Uma investigação da 3ª Delegacia de Fraudes Financeiras e Econômicas do Deic revelou um esquema de adulteração de whey protein e outros suplementos em São Paulo, envolvendo um empresário e mais quatro pessoas.
O grupo é acusado de falsificar datas de validade e modificar os suplementos para mascarar a aparência de produtos vencidos. Em uma conversa interceptada pela polícia, o empresário José Roberto Adriano Ferreira de Assis, chamado de Betão do Whey e identificado como o líder, descreveu a mercadoria como “miolo de rato”.
“Eu que vou ficar com essa bomba aí? Chega aqui, tá até com miolo de rato dentro”, disse Betão em uma conversa.
A defesa de Betão afirma que a frase foi retirada de contexto. “Ele não tem qualquer influência na produção do suplemento”, disse o advogado Fabio Ferraz.
Betão e quatro associados foram presos no dia 20 de maio. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), eles compravam suplementos próximos ao vencimento, como whey protein e creatina, de grandes fornecedores.
Depois, as embalagens eram reetiquetadas com novas datas de validade. Em alguns casos, os produtos “empedrados” eram triturados em uma centrífuga para parecerem novos. Após essa manipulação, os suplementos eram reembalados e vendidos por preços mais baixos.
Betão possui uma loja física em São Paulo, mas a maioria das vendas era online. Em áudios exibidos pelo programa Fantástico no último domingo (9/6), Betão discutia o esquema com um cúmplice:
“É nesses que eu ganho dinheiro, véio. Eu virei o lixão. Todo mundo me procura para vender coisa estourada já.”
Na operação, foram apreendidos produtos com datas vencidas ou próximas ao vencimento, além de equipamentos para remarcar embalagens e adulterar os produtos.
Em outra conversa, Betão pediu a um parceiro: “Vê se consegue apagar aí a validade”. Em tom de brincadeira, ele perguntou a um fornecedor: “Tem nada naquele esqueminha que eu gosto? Demarquê? Devencidê?”
A investigação, inicialmente focada em fraudes fiscais e conduzida pelo delegado Eduardo Miraldi, revelou crimes contra a saúde pública. A polícia agora busca responsabilizar as empresas e pessoas que forneciam os produtos adulterados. A Anvisa também investigará o caso.
Betão foi liberado pela Justiça. Seu advogado nega seu envolvimento no esquema. “Ele não fabrica nada, ele tem uma loja pequena. Ele não interfere na produção do suplemento. Ele compra do fabricante e revende”, afirmou Ferraz.
O advogado reconheceu que Betão possuía produtos vencidos, mas negou que fossem vendidos.
“Meu cliente compra produtos com validade estendida e mais curta, repassados pelo fabricante com desconto, e ele os revende com preços competitivos. Como qualquer pessoa sem histórico criminal, ele está abalado. Ele sentiu o impacto disso, especialmente por estar há 15 anos no mercado”, concluiu o advogado.