Na manhã desta quarta-feira (3), um terreiro de candomblé foi alvo de vandalismo no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Imagens capturadas no local mostram Thiago Campelo de Melo, de 43 anos, usando uma marreta para destruir plantas e um banco de concreto no Terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé Funan, situado na comunidade de Jardim Petrópolis. Ao lado do agressor estava sua esposa, que também participou da confusão.
A situação ocorreu justamente no Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial. Segundo a ialorixá Elaine Bezerra Torres, a esposa de Thiago a xingou de “negra safada”. As tensões com o vizinho começaram há seis meses, mas se intensificaram recentemente devido à construção de um espaço de convivência para crianças no terreiro. Thiago teria afirmado que o local atrairia “marginais” e que temia ser assaltado ao voltar para casa à noite.
Na terça-feira (2), Elaine havia preparado o jardim com jarros de plantas e bancos, com a intenção de inaugurá-lo com atividades para as crianças na quarta-feira (3). No entanto, na manhã do evento, Thiago apareceu e começou a destruir as instalações. Em um dos vídeos feitos por testemunhas, ele é visto arrancando pneus que demarcavam o espaço enquanto discutia com os membros do terreiro.
A polícia foi acionada por vizinhos e Thiago foi levado à Central de Plantões da Capital (Ceplanc), no bairro de Campo Grande, onde foi registrado um boletim de ocorrência. A ialorixá Elaine relatou que recebeu as imagens da depredação enquanto participava de uma reunião na Secretaria de Direitos Humanos do Recife para denunciar o racismo sofrido.
“Minha casa é frequentada por pessoas negras e praticantes de religiões de matriz africana. Não somos marginais; somos adoradores da natureza e pessoas de paz. Estou nesta comunidade há 15 anos e lutamos pelos nossos direitos”, declarou Elaine, emocionada.
Além da depredação, Thiago também foi denunciado por injúria. Janaína Raiane do Nascimento, vendedora e participante do terreiro, tentou defender a ialorixá durante a discussão e foi insultada pela esposa do agressor, que a chamou de “negra safada”. Janaína expressou sua indignação: “Nós não podemos nos calar diante disso.”
A advogada Patrícia Teodósio, que representa as vítimas, informou que o delegado responsável pelo caso inicialmente se recusou a registrar a denúncia como injúria racial. Segundo ela, o delegado considerou apenas os eventos da manhã, não incluindo as ofensas raciais proferidas na noite anterior.
A Polícia Civil está investigando o caso e afirmou que a classificação do crime pode ser alterada conforme novas evidências surgirem.
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