Trabalho escravo em vinícolas no Sul: trabalhadores relatam falsas promessas e tortura

No último domingo (5), o programa Globo Rural trouxe à tona uma denúncia de trabalho escravo em alojamentos que serviam às vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton, no Rio Grande do Sul. A denúncia foi feita por um dos 207 trabalhadores enganados pela empresa terceirizada Fênix Serviços Administrativos, contratada para a colheita da uva e produção de vinho na região.

De acordo com o relato do trabalhador, que preferiu não se identificar, a proposta feita pela empresa era tentadora: R$ 2 mil por um mês de trabalho ou R$ 4 mil por dois meses, além de passagem de ida e volta, alimentação e dormitório. Entretanto, ao chegar no alojamento, o trabalhador descobriu que tudo não passava de uma farsa.

O local era pequeno para comportar todos os funcionários, que eram acordados aos gritos e queimados caso não levantassem para trabalhar. Além disso, eram chamados de “demônios” e ouviam frases como “baiano bom é baiano morto” e “se não trabalhar, vai morrer”. Os que não conseguiam acordar para trabalhar tomavam choque no pé ou murros na costela.

A alimentação dos trabalhadores era precária, sendo oferecido apenas um pão com café da manhã, uma quentinha “azeda” no almoço e falta de comida à noite. Além disso, o salário prometido não era pago e as despesas profissionais saíam do próprio bolso dos trabalhadores. “Se perdesse uma bota, era R$ 200, R$ 300 para pagar eles lá. Se perdesse uma luva, era pago a eles lá”, conta o trabalhador.

A decisão de deixar o alojamento veio após receberem ameaças. No dia 22 de fevereiro, uma força-tarefa desarmou a ação que colocava os 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão.

Essa situação é inadmissível e fere os direitos humanos básicos. O trabalho escravo é crime e deve ser punido com rigor. As empresas envolvidas devem ser responsabilizadas e os trabalhadores devem receber a devida reparação pelos danos causados.