Internos da Penitenciária Lemos Brito, localizada na Bahia, estão trilhando um caminho de transformação através da educação e da escrita. Como parte do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), oferecido pela Secretaria Estadual da Educação (SEC), no Colégio Estadual Professor George Fragoso Modesto, um grupo de 15 detentos lançou recentemente o livro “Porque quem lê escreve”. Este projeto pioneiro não apenas proporciona uma nova perspectiva para a vida após a detenção, mas também contribui para a ressocialização dos apenados.
Os textos do livro foram gerados durante Oficinas de Escrita Literária conduzidas pelo editor Alex Giostri na própria penitenciária. Essa iniciativa faz parte do Projeto Virando a Página – Remição de Pena pela Leitura, uma colaboração entre a Corregedoria do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP) e a SEC. O estímulo à leitura é reconhecido como um dos meios eficazes para facilitar a reintegração social.
José Antônio Souza Matos, vice-diretor do Colégio Estadual Professor George Fragoso Modesto, ressalta a importância do processo educacional na reintegração dos detentos. Ele destaca que a produção do livro é um resultado direto do trabalho em sala de aula ao longo do ano letivo.
Além de promover a aprendizagem, essa iniciativa também contribui para a remissão da pena. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cada livro lido corresponde à remição de quatro dias de pena, com um limite de 12 obras avaliadas em um período de 12 meses, podendo totalizar até 48 dias de remissão.
C.M.S, um dos autores do livro, relata a transformação que a leitura e a escrita trouxeram para sua vida. Ele expressa sua surpresa ao participar de algo tão significativo enquanto estava na prisão e compartilha suas aspirações de fazer faculdade após ser libertado. Segundo ele, o estudo desvia o foco de pensamentos negativos.
Para L.A.S.F, outro autor do livro, a obra representa uma oportunidade para compartilhar sua história e expressar seus sentimentos neste momento da vida. Ele acredita que a publicação permitirá que as pessoas compreendam melhor a vida de um detento e destaca a importância da educação para criar uma nova perspectiva sobre a humanidade.
Além da aprendizagem, a prática da leitura também resgata a autoestima dos detentos. A professora Katia Mathéo enfatiza que o contato com a leitura e a escrita transforma os alunos, aumentando sua autoestima e esperança de reintegração na sociedade. Ela apela para que a sociedade compreenda o esforço dessas pessoas em buscar a liberdade e ofereça novas oportunidades para os ex-reclusos.