A Arquidiocese de São Paulo expressou, através de uma nota, sua perplexidade com a proposta de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Paulo. A CPI tem como objetivo investigar organizações não governamentais atuantes na região conhecida como Cracolândia, um local notório por reunir indivíduos em situação de rua e usuários de drogas. O Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, é apontado como foco principal da investigação pelo vereador Rubinho Nunes (União), responsável pelo pedido.
As declarações de Nunes sugerem uma direção da investigação contra o movimento A Craco Resiste, além de ressaltar a figura de Lancellotti, embora o padre não tenha sido explicitamente citado no pedido de abertura. Em 2020, ainda como candidato, Nunes já havia acionado o Ministério Público contra a organização A Craco Resiste, acusando-a de incentivar o consumo de drogas, contudo, a investigação foi arquivada sem comprovações de irregularidades.
A Arquidiocese questiona a intenção por trás desta nova CPI, sobretudo por coincidir com um ano eleitoral. “Perguntamo-nos por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral?”, diz em nota.
A necessidade da CPI é justificada pelo vereador com base em supostas práticas das ONGs de fornecer alimentos e utensílios relacionados ao consumo de drogas, além do tratamento de dependentes químicos. O pedido de CPI já coletou assinaturas de mais de um terço dos vereadores, mas ainda necessita de aprovação em plenário.
Em contrapartida, a vereadora Silvia da Bancada Feminista (PSOL) propõe uma investigação sobre o aumento da população em situação de rua em São Paulo e a eficácia das políticas públicas voltadas para esse grupo. O pedido ressalta o crescimento significativo da população de rua durante a gestão do Prefeito Ricardo Nunes e critica as abordagens adotadas pela administração municipal.
Padre Lancellotti se pronunciou afirmando que as CPIs são um mecanismo legítimo, mas esclareceu que não está vinculado a nenhuma organização investigada. A Craco Resiste também se posicionou, enfatizando sua natureza de projeto de militância e criticando as políticas de internação e repressão na Cracolândia, as quais consideram ineficazes e redirecionadoras de recursos públicos. A tentativa de instauração da CPI é vista pelo movimento como uma distração de questões mais urgentes e relevantes para a sociedade.