Em um impressionante ato de silêncio, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-assessor de Jair Bolsonaro, recusou-se a responder todas as 41 perguntas dirigidas a ele durante uma audiência de seis horas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 11 de julho.
O silêncio persistente, mesmo diante de perguntas triviais como sua idade ou o número de filhos que tem, levou a CPMI a quebrar seus sigilos telefônico, telemático e bancário, medida que também se estendeu a outros 20 investigados.
Cid, vestido com a farda verde-oliva do Exército, é atualmente objeto de oito inquéritos no Supremo Tribunal Federal e na Polícia Federal. Esses inquéritos abordam assuntos que vão desde a possível participação de Cid nos atos golpistas de janeiro, até suspeitas de fraude em cartões de vacinação contra a covid-19. Atualmente, o tenente-coronel encontra-se detido no Batalhão da Polícia do Exército em Brasília.
Durante a sessão, a relação de Cid com o ex-presidente Bolsonaro e a possível ligação deste último aos ataques de janeiro estiveram no centro dos questionamentos. Apesar da pressão, a resposta de Cid manteve-se a mesma: “Com todo respeito a Vossa Excelência, mas, dentro do escopo das investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal, sigo as orientações da minha defesa técnica e, com base em habeas corpus, vou me manter no direito de ficar em silêncio”.
Essa resposta se repetiu independentemente do questionamento, fosse este feito pela relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), ou por qualquer outro parlamentar.
As acusações contra Cid são graves, incluindo discussões de teor golpista com outros militares e o uso indevido de um cartão corporativo da presidência. Em sua única declaração, o tenente-coronel tentou desvincular-se de Bolsonaro, afirmando que sua função de ajudante de ordens era restrita às funções de secretariado executivo do presidente, e que seu vínculo empregatício estava com o Gabinete de Segurança Institucional, não com o ex-presidente diretamente.
A recusa de Cid em cooperar com a CPMI gerou frustração entre os membros da comissão. O presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), manifestou que o colegiado pretende apresentar uma denúncia contra Cid por desrespeitar a ordem do STF que o obrigou a se manifestar como testemunha, mesmo que se reservasse o direito de permanecer em silêncio quando as perguntas pudessem incriminá-lo.
Na defesa de Cid, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou o processo, argumentando que estavam “trancafiando uma pessoa honesta na cadeia e jogando a chave fora”.
À medida que as investigações avançam, resta ver quais consequências o silêncio de Mauro Cid trará para o desenrolar dos inquéritos e para o cenário político brasileiro como um todo.