Em depoimento a Moro, Dilma fala sobre indicação de Bendine à presidência da Petrobras

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) prestou depoimento na manhã desta sexta-feira (27) ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da operação Lava Jato na primeira instância.

Dilma foi ouvida como testemunha de defesa no processo em que o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil Aldemir Bendine é acusado de receber propina.

Bendine, que está preso em Curitiba desde 27 de julho, responde por corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e embaraço à investigação. Dilma nomeou Bendine para a presidência da Petrobrás com a missão de acabar com os desvios na estatal.

“Eu convidei o doutor Bendini e eu disse a ele que, para mim, era importante que ele deixasse a presidência do Banco do Brasil e fosse para a Petrobras", disse Dilma a Moro.

A ex-presidente relatou, ainda, que fez o convite quando Graça Foster decidiu deixar a presidência da estatal. Ao longo do depoimento, porém, Dilma deixou claro que gostaria que Graça tivesse continuado o seu trabalho como presidente da Petrobras.

"Em um determinado fim de semana, não lembro a data, ela, em definitivo, disse que se afastaria e me pediu que eu tomasse uma providência. A Petrobras não podia ficar sem direção", contou. "Escolhi o doutor Bendine e o doutor Ivan [de Souza Monteiro] pelo desempenho que eles tinham tido diante do Banco do Brasil, que era um elemento, para mim, bastante valioso", acrescentou.

De acordo com Dilma, a atuação de Bendine e Monteiro fez com que o banco, que estava em uma "situação frágil", apresentasse "bons resultados". Ainda segundo a ex-presidente, foi necessário persuadir Bendini a aceitar o cargo, pois ele estava em uma "posição confortável" no banco.

"Houve a necessidade de uma persuasão. Eu persuadi o doutor Bendini a aceitar, junto com o doutor Ivan. Por que era também complicado? Era a saída dos dois, mas eles tinham sucessores naturais, pelo que me informaram. E, aí, foi possível fazer uma transição muito rápida", afirmou.

Dilma foi ouvida por videoconferência com a Justiça Federal de Belo Horizonte, onde está cuidando da saúde de sua mãe. A ex-presidente chegou para prestar depoimento pouco antes das 11h e falou por cerca de meia hora.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Bendine recebeu R$ 3 milhões em propinas da Odebrecht em 2015, depois que assumiu a presidência da Petrobrás. Mas o pedido teria sido feito antes, na época em que era presidente do Banco do Brasil.

Questionada sobre se Bendine era interlocutor da presidência com a Odebrecht, Dilma afirmou que ele agia como qualquer outro presidente do Banco do Brasil.

"O doutor Bendine era interlocutor da Presidência como diretor-presidente do Banco do Brasil. Qualquer outra especificação era, no mínimo, extemporânea. Ele era interlocutor do governo como presidente do Banco do Brasil".

A ex-presidente negou ter conhecimento de participação direta da presidência na decisão de assuntos relacionados à Odebrecht.

Pedido negado

O MP pediu, no início do depoimento, que Dilma não fosse ouvida como testemunha de defesa e tivesse o direito de ficar em silêncio.

Segundo o procurador, Dilma tem interesse na investigação, já que foi quem indicou Bendine como presidente da Petrobras. Segundo o MP, Dilma poderia ser parcial no depoimento. O pedido não foi aceito por Moro.

Assista ao depoimento completo abaixo: