Durante a live semanal do presidente Jair Bolsonaro, na noite desta quinta-feira (9), o ministro daEducação , Abraham Weintraub, recorreu a caixas de bombom para explicar os cortes — que ele se recusou a chamar de cortes , mas sim de contingenciamento — que seu ministério está fazendo nos orçamentos de universidades federais. No dia 30 de abril, o ministro anunciou que iria bloquear 30% das verbas de todas as universidadesfederais. Na transmissão ao vivo feita nove dias depois, no entanto, o ministro afirmou que o contingenciamento seria de apenas 3,5%.
— Tem muita gente que está espalhando o terror e falando coisas que não estão acontecendo. — começou Weintraub. — O que a gente está se deparando? A economia do Brasil, até o senhor (falando com Bolsonaro) ser eleito, estava afundando. As pessoas tinham parado, com medo, de comprar roupa. Tinham diminuído ao mínimo as compras delas. Não trocavam mais de geladeira, de televisão… agora deu um alívio. A gente parou de afundar, mas o Brasil ainda não decolou porque você ainda tem muita incerteza referente à nova Previdência.
Weintraub disse que seu colega Paulo Guedes, ministro da Economia, “teve que fazer isso”, em referência aos bloqueios de orçamento, que ele enfatiza não serem cortes, “porque a lei manda a gente contingenciar”.
— Segurar um pouco. Não cortar. Segurar um pouco os gastos. Não só no Ministério da Educação, que eu sou responsável, mas em todos os ministérios. — afirmou o ministro.
O Ministério da Educação (MEC) já fez bloqueios de R$ 5,7 bilhões, o que representa cerca de 23% de seu orçamento discricionário (não obrigatório), cortando verbas direcionadas a todas as etapas da educação. Ao todo, o MEC terá R$ 7,4 bilhões bloqueados. O congelamento de recursos compromete R$ 2,1 bilhões das universidades. Mas a tesoura chegou também à educação básica, apontada nesta segunda-feira pelo presidente Jair Bolsonaro como prioridade.
Ministro fala em R$1 bilhão por universidade, mas UFRJ não chega a metade deste valor
Em seguida, o ministro espalhou os chocolates sobre a mesa e afirmou que tinha cem chocolates, que representariam o orçamento de uma hipotética universidade federal.
— Imagine uma universidade federal típica. Uma normal, dessas que a gente vê por aí. O que a gente está fazendo com elas? Elas geralmente têm de orçamento um bilhão de reais por ano.
— Cada universidade, um bilhão por ano? — Pergunta Bolsonaro.
— Algumas têm mais — responde o ministro. — Algumas têm quase quatro (bilhões), três (bilhões) e meio, algumas menos. Mas vamos supor, assim, uma das que a gente encontra com mais facilidade: um bilhão de reais por ano.
— Esse dinheiro vem de onde? — Interrompe Bolsonaro.
— Vem do seu bolso — afirma o ministro, apontando para a câmera. — Porque você paga imposto para comprar chocolate, para pagar a linha de celular. Nesse momento em que está todo mundo segurando e apertando o cinto, a gente não está mandando ninguém embora. Todos os salários estão preservados.
A título de exemplo, o orçamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maior federal do Brasil, não chega a um bilhão de reais. Na realidade, mal passa de um terço deste valor. O orçamento previsto para 2019 na UFRJ era de R$361 milhões.
“Há cinco anos, a Universidade vem sofrendo cortes e contingenciamentos sem reposição”, afirma a UFRJ em nota divulgada no dia 3 de maio de 2019 . “Devido aos cortes, a UFRJ opera em déficit de aproximadamente R$ 170 milhões.”, continua a nota.
Ainda na nota, a reitoria da UFRJ afirma que a obstrução orçamentária de R$ 114 milhões “impactará no funcionamento da UFRJ, atingindo diretamente despesas ordinárias de custeio, como consumo de água, energia elétrica, contratos de prestação de serviços de limpeza e segurança”.
“Se fosse uma empresa, teria que mandar gente embora”
O ministro ainda comparou a universidade federal hipotética de sua explicação a uma padaria onde, num momento de cortes, seria necessário demitir funcionários.
— Se fosse numa empresa, numa padaria, a gente às vezes tem que mandar gente embora numa situação dessas. Ninguém vai ser mandado embora, todo mundo está recebendo em dia. Professor, técnico, todo mundo. A gente também está falando: “olha, todo a ajuda que o aluno recebe de refeitório, de moradia, está preservado”.
Para ilustrar seu ponto, pegou um dos chocolates variados, abriu e partiu ao meio. O presidente tirou o pedaço de chocolate de sua mão e comeu.
— A gente está pedindo simplesmente que três chocolatinhos. Três. Desses cem chocolates, três chocolatinhos e meio. Esses três chocolatinhos e meio não estamos falando para a pessoa que vamos cortar. Não está cortado. Deixa para comer depois de setembro. É só isso que a gente está pedindo. Isso é segurar um pouco. — ilustrou o ministro. — O salário está integralmente preservado e pago no dia. A gente tem todo o auxílio aos alunos preservado. E agora ficam espalhando que a gente está fechando tudo.
Ao fim da transmissão, o presidente Bolsonaro afirmou que iria “confiscar 30%” dos chocolates que Weintraub usou. Coincidentemente, este é o percentual anunciado do bloqueio de orçamentos em universidades federais.