O governo federal teve notícias sobre a eventual retirada espontânea de alguns grupos de garimpeiros que invadiram a Terra Indígena Yanomami. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, confirmou a informação sobre a detecção de fluxos de garimpeiros quando visitou Boa Vista neste sábado (4), para acompanhar o andamento da declaração de estado de emergência em saúde pública na terra indígena. As ações de emergência foram iniciadas pelo governo Lula (PT) no dia 20.
Há sinais de que houve grupos de garimpeiros recentemente, procurando áreas com mineração de ouro.
“Temos essa informação de que muitos garimpeiros estão saindo. É bom que saiam mesmo. Retirar 20 mil garimpeiros demora um tempinho”, disse Guajajara na tarde deste sábado. “Se eles começam a sair, estão corretos. Melhor para todo mundo se saem sem precisar da ação da força de segurança.”
A ministra disse que as notícias sobre a possível saída de alguns garimpeiros foram relatadas por agentes de inteligência do governo, por funcionários que estão na área desde que o estado de emergência foi declarado, por equipes que fazem sobrevoo no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e por membros de associações de indígenas.
Lula anunciou que as mais de 20 mil pessoas que invadiram a terra indígena serão retiradas em operações do governo federal, sem especificar uma data. Os pormenores sobre essa expulsão, que já foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), cabem ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, segundo a ministra dos Povos Indígenas.
Acompanhando a ministra, a diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Lucia Alberta Andrade, disse que a retirada dos garimpeiros deve impedir que se repitam os erros cometidos nos anos 90, quando também houve uma ocupação do território por invasores, em quantidade até mesmo superior à atual, pelas estimativas existentes.
“Deve haver muito cuidado para que não ocorra como na década de 90, quando garimpeiros foram para Raposa Serra do Sol [outra terra indígena em Roraima] e para outros garimpos ilegais”, disse Andrade.
De acordo com ela, qualquer ação de remoção dos invasores deve considerar a presença dos nativos isolados na terra yanomami.
Há registros de garimpeiros que, após caminharem pela vegetação, procuram pistas de pouso ilegais para abandonar as áreas de garimpo. Ações são pensadas com o governo de Roraima para transportar quem quiser sair.
“É preciso combater a raiz, que é o garimpo ilegal. Não é possível que mais de 30 mil indígenas yanomamis sigam convivendo com 20 mil garimpeiros em seu território”, disse Guajajara.
“O governo federal está organizando ações de retirada de garimpeiros, perfuração de poços artesianos e serviços de comunicação”, completou.
A ministra, no entanto, não informou quando a retirada irá ocorrer. Segundo ela, equipes de saúde enviadas às regiões de Surucucu e Auaris, as mais impactadas pela crise de saúde, com explosão de casos de malária e desnutrição grave, precisam ser mantidas em segurança.
Em janeiro, 223 yanomamis foram levados da terra indígena a unidades de saúde em Boa Vista. O principal motivo foram quadros graves de malária, desnutrição, pneumonia e outras doenças oportunistas da fome.