Preso pela Polícia Federal, Walter Delgatti Neto contou em depoimento que a ex-vereadora, ex-deputada federal e ex-candidata a vice-presidente Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) foi a intermediária que o colocou em contato com o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil. O repórter Mahomed Saigg, da TV Globo, teve acesso com exclusividade ao depoimento.
Delgatti Neto disse que, em 12 de maio, Dia das Mães, ligou para Manuela afirmando que tinha o acervo de conversas de integrantes do Ministério Público e que precisava do telefone de Greenwald (o Intercept só começaria a publicar essas conversas em 9 de junho, com diálogos atribuídos ao ministro Sérgio Moro e procuradores).
Segundo Delgatti, ele percebeu que Manuela D’Avila não estava acreditando nele e, por isso, enviou a ela uma gravação de áudio de dois procuradores (leia a íntegra do depoimento dele).
Em nota divulgada em rede social na noite de sexta (26), Manuela D’Ávila disse que repassou o contato do jornalista do Intercept Brasil, Glenn Greenwald, a um hacker que invadiu o celular dela.
A ex-deputada disse que no dia 12 de maio foi comunicada pelo aplicativo Telegram de que o celular dela havia sido invadido no Estado da Virgínia, Estados Unidos. Minutos depois, recebeu mensagem de uma pessoa, que se identificou como alguém inserido na lista de contatos.
” […] repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald”, diz trecho de nota.
Veja a nota na íntegra:
Tomando ciência, pela imprensa, de alusões feitas ao meu nome na investigação de fatos divulgados pelo “The Intercept Brasil”, e por me encontrar no exterior em atividades programadas desde o início do corrente ano, esclareço que:
1. No dia 12 de maio, fui comunicada pelo aplicativo Telegram de que, naquele mesmo dia, meu dispositivo havia sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos. Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras. Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza.
2. Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald.
3. Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular, e desde já, me coloco a inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal, bem como a formalmente informarem, a quem de direito, que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular à exame pericial.
O que diz o Intercept
Em nota divulgada na noite desta sexta-feira, o site The Intercept Brasil informou que não comenta “assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas”. A nota destaca que o sigilo de fonte é direito garantido pela Constituição Federal.
“Os desdobramentos da operação deflagrada pela Polícia Federal não mudam o fato de que a Constituição Federal garante o direito do Intercept de publicar suas reportagens com este ou qualquer outro material de interesse público que chegue às mãos de nossa redação e tenha tratamento jornalístico seguindo os melhores padrões internacionais. Esse mesmo direito é garantido para toda a imprensa brasileira”, diz o texto da nota.