O primeiro dia da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira (17), na Bahia, foi marcado por confrontos entre manifestantes pró e contra o petista, em Salvador, onde policiais militares tiveram de fazer disparos para conter o tumulto. Além disso, horas antes da chegada de Lula à cidade, uma decisão judicial cancelou a entrega do título de Doutor Honoris Causa que ele receberia da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), nesta sexta-feira (18), em Cruz das Almas. A decisão foi do juiz Evandro Reimão dos Reis, da 10ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia, atendendo ação popular ajuizada pelo vereador Alexandre Aleluia (DEM).
O magistrado entendeu que o título teria o intuito de proporcionar "uma manifestação ruidosa do réu Luís Inácio Lula da Silva no local da entrega da homenagem ao coincidi-la com o evento envolvido de visibilidade político-partidária". O ex-presidente chegou ao Aeroporto de Salvador por volta das 16h, dirigindo-se para o Campo da Pólvora, em Nazaré, de metrô. Em seguida, acompanhado de militantes e alguns correligionários, seguiu para a Arena Fonte Nova, para o lançamento do Memorial da Democracia, um portal multimídia feito por iniciativa do Instituto Lula.
Na entrada do estádio, houve uma confusão entre militantes Pró-PT e membros do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Vem Pra Rua, que inflaram um boneco “Pixuleco”, representando Lula com um uniforme de presidiário. O boneco foi destruído pelos manifestantes pró-PT. Integrantes do Vem Pra Rua e do MBL acusaram o governo da Bahia, sob comando do petista Rui Costa, de usar o aparato estatal para dar apoio à caravana do ex-presidente.
Em nota, a UFRB informou que recebeu com surpresa, a notificação da decisão do juiz Evandro Reimão dos Reis. Ainda segundo a nota da universidade, “a decisão judicial fere um dos princípios fundamentais das universidades públicas que é a autonomia universitária”. Segundo a nota da UFRB, a homenagem ao ex-presidente Lula seria um antigo desejo de setores da comunidade universitária, devido à expansão e interiorização do ensino público superior. A UFRB informou ainda que solicitou à Advogacia Geral da União (AGU) que tome as medidas cabíveis para alterar a decisão judicial. A universidade também vai aguardar o posicionamento do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF) sobre o assunto.
De acordo com a brigada de segurança no evento desta noite, mais de 15 mil pessoas estiveram presentes na Arena Fonte Nova. No local, o militante do coletivo Kizomba, Roberto Júnior, 23, comentou sobre o embargo judicial. “Lula foi o fundador da interiorização das universidades no país e a UFRB, como parte disso, entendeu de fazer essa entrega. A ação contra o título foi uma estratégia do vereador, que nada fez pelo país, para aparecer na mídia", disse. Aluno da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o estudante considera que foi beneficiado pelas políticas públicas de acesso à educação superior implantadas pelo governo do petista. "Apesar de não ter votado no presidente nas eleições, estou convicto de que o projeto político dele mudou a cara do Brasil", afirmou.
Outra manifestante, uma comerciante de 73 anos, disse que vê no presidente a segurança de um país mais democrático. “Eu assisti de perto a época do movimento contra a ditadura. Eu estava grávida em 1964 e lutei com meu marido, na Praça da Sé. Lula é a minha esperança de que os tempos não voltem para isso. O [presidente] Michel Temer é um ditador. Nas manifestações em Brasília, ele colocou um exército em cima das pessoas. Isso não tem nada de democracia", argumentou ela, que preferiu não se identificar.
Informado da decisão judicial que suspendia a entrega do título, Lula disse que ainda assim seguirá para Crus das Almas, para se reunir com o reitor da UFRB, professores e estudantes. "O que me interessa é o reconhecimento deles. Fui o cidadão sem título universitário que mais fiz universidades nesse país".