O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, revelou à Polícia Federal que entregou uma parte do dinheiro obtido com a venda de joias diretamente ao ex-presidente durante uma viagem oficial a Nova York. O encontro teria ocorrido em setembro de 2022, quando Bolsonaro discursou pela última vez como presidente na Assembleia Geral da ONU.
Segundo Cid, os recursos provinham da venda de relógios de luxo, recebidos como presentes de autoridades estrangeiras, que ele mesmo negociou nos Estados Unidos em 2022. O montante, conforme relatado à PF, totalizou cerca de US$ 68 mil e foi depositado em uma conta pertencente ao pai de Cid, o general da reserva Mauro Lourena Cid, que à época residia em Miami e comandava o escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) durante o governo Bolsonaro.
De acordo com o depoimento de Mauro Cid, seu pai retirou o valor em espécie de forma parcelada devido aos limites de saque nos caixas eletrônicos. Em seguida, viajou de Miami a Nova York, em setembro de 2022, onde encontrou seu filho, que acompanhava Bolsonaro na viagem oficial. Cid contou à PF que recebeu parte do dinheiro das mãos de seu pai e repassou os dólares em espécie a Bolsonaro.
O ex-ajudante de ordens reforçou essas informações em uma série de depoimentos à Polícia Federal, incluindo uma oitiva recente ocorrida em 18 de junho. Cid afirmou que, no final do governo, Bolsonaro teria solicitado a venda de alguns presentes que considerava de seu acervo pessoal, acreditando que poderiam ser comercializados.
Ainda segundo Cid, outra parte do dinheiro da venda dos relógios foi entregue a Bolsonaro em 2023, em Orlando. Esses recursos foram repassados por seu pai ao segundo-tenente Osmar Crivelatti, outro ajudante de ordens de Bolsonaro. Crivelatti teria então entregado o dinheiro em espécie a Bolsonaro, que permaneceu nos Estados Unidos de 30 de dezembro de 2022 a 29 de março de 2023.
A defesa de Bolsonaro, por meio de seu advogado e assessor de imprensa Fábio Wajngarten, nega veementemente as acusações. Wajngarten afirmou que Bolsonaro não ordenou a venda de joias nem recebeu qualquer quantia referente a isso. Segundo ele, Cid foi pressionado a fazer um acordo de delação premiada enquanto estava preso. O advogado também alegou que Bolsonaro raramente tinha acesso aos presentes recebidos no exterior, citando como exemplo dois conjuntos de joias enviados pelo governo da Arábia Saudita, que foram apreendidos pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos em outubro de 2021.
Wajngarten questionou se esses conjuntos, caso tivessem passado despercebidos, teriam realmente chegado a Bolsonaro, sustentando que o ex-presidente só soube deles 14 meses depois.