O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, revelou em sua delação premiada à Polícia Federal que membros da família Bolsonaro, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, teriam incitado o ex-presidente a não reconhecer sua derrota nas urnas para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Estas alegações foram inicialmente reportadas pela coluna de Aguirre Talento no portal UOL.
Conforme relatos de Cid, um grupo de conselheiros radicais, que incluía a ex-primeira-dama e o deputado federal por São Paulo, teria convencido Bolsonaro de que ele teria apoio popular e dos CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores) para um possível golpe de Estado.
As acusações foram categoricamente negadas pelos Bolsonaros. A defesa de Jair e Michelle classificou as alegações como “absurdas”, enquanto Eduardo Bolsonaro desmentiu a narrativa, chamando-a de “fantasia, devaneio”.
Contrastando com este grupo, o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do ex-presidente, aparentemente fazia parte de uma facção que aconselhava o reconhecimento público do resultado eleitoral. Jair Bolsonaro rompeu o silêncio somente 44 horas após o término do segundo turno, sem, contudo, admitir explicitamente a derrota. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi quem confirmou o cumprimento da lei de transição pelo governo.
A delação de Cid também sugere que a resistência de Bolsonaro em aceitar a vitória de Lula e desmobilizar os acampamentos golpistas devia-se à esperança de descobrir alguma fraude nas urnas que invalidasse o resultado eleitoral. No entanto, nenhuma prova foi encontrada para corroborar tal alegação.
Outro aspecto relevante da delação é a suposta tentativa de Bolsonaro de buscar apoio militar para reverter o resultado eleitoral. De acordo com Cid, apenas o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, teria apoiado a proposta golpista. Um oficial do Exército teria advertido Bolsonaro que um golpe poderia resultar também em sua remoção do poder.
Mauro Cid, preso em maio em uma operação que investigava fraudes na vacinação contra a COVID-19, foi liberado em setembro após ter sua delação premiada homologada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Sua proximidade com o ex-presidente durante seu mandato, inclusive em momentos cruciais, confere um peso considerável às suas declarações.
A defesa de Jair e Michelle Bolsonaro ressaltou que as alegações de Cid não são baseadas em provas concretas, e Eduardo Bolsonaro reforçou a ideia de que as acusações são infundadas. Ainda não foi concedido acesso à delação para a defesa.