Um embate político de alto nível escalou neste sábado quando o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, acusou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro de envolvimento em planos para assassinar o presidente Lula. A declaração veio como resposta às recentes afirmações de Bolsonaro sobre uma possível prisão. “Ele não pensava assim quando planejava o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do presidente do TSE de então, Alexandre de Moraes”, disparou Teixeira, referindo-se à fala do ex-presidente.
Bolsonaro, que recentemente se tornou réu por tentativa de golpe de Estado, havia declarado à Folha de São Paulo que uma eventual prisão seria “o fim da sua vida”, considerando seus 70 anos de idade. Durante a mesma entrevista, o ex-presidente confirmou que discutiu a possibilidade de decretar estado de sítio após perder as eleições presidenciais de 2022 para Lula.
Na última quarta-feira (26), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu, por unanimidade, a denúncia contra Bolsonaro e outros sete aliados. Eles são acusados de participação em uma tentativa de golpe de Estado que culminou nos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 20231.
O plano “Punhal Verde e Amarelo”
As investigações da Polícia Federal, que resultaram em um relatório de 884 páginas, revelaram detalhes alarmantes sobre a suposta conspiração. De acordo com o documento, Bolsonaro estava “plenamente ciente” e “participou ativamente” de um plano para permanecer no poder após sua derrota eleitoral.
O plano, batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, incluía não apenas a tentativa de invalidar os resultados eleitorais, mas também o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Em fevereiro de 2025, o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, formalizou as acusações contra Bolsonaro e outros 33 indivíduos. No documento de 272 páginas, Gonet afirmou que “os membros da organização criminosa estruturaram no palácio presidencial um plano para atacar instituições, visando derrubar o sistema de poderes e a ordem democrática, que recebeu o sinistro nome de ‘Punhal Verde e Amarelo’. O plano foi concebido e levado ao conhecimento do presidente, e ele concordou com isso”.
Prisões e desdobramentos
Em novembro de 2024, a Polícia Federal prendeu quatro militares e um agente federal suspeitos de participação no plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes. Entre os detidos estava o general reformado Mário Fernandes, que teria impresso no Palácio do Planalto o “plano operacional” para os assassinatos.
Em dezembro do mesmo ano, o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, também foi preso sob suspeita de obstruir as investigações sobre a tentativa de golpe.
O caso gerou forte reação das autoridades brasileiras. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, classificou as revelações como “chocantes”. Já o ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social, afirmou que o caso apresentava “evidências muito concretas de um plano para atingir diretamente o presidente da República”.
Bolsonaro nega acusações
Diante das graves acusações, Bolsonaro e sua defesa têm negado veementemente qualquer envolvimento nos planos golpistas. “O termo ‘golpe de Estado’ nunca fez parte do meu léxico”, declarou o ex-presidente em uma coletiva de imprensa em novembro de 2024.
Após o anúncio da denúncia formal em fevereiro de 2025, a equipe de defesa de Bolsonaro afirmou estar “chocada” e “indignada”, acrescentando que o ex-presidente “nunca” esteve ligado a “um movimento que visasse desconstruir o Estado Democrático de Direito”.
Agora, com a decisão do STF de colocá-lo em julgamento, Bolsonaro pode enfrentar décadas de prisão se for condenado. As acusações de tentativa de golpe carregam uma pena de até 12 anos, que pode ser ampliada considerando outros crimes potenciais relacionados ao caso.