Na Argentina, Lula defende moeda comum sul-americana para reduzir dependência ao dólar

Em visita à Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, junto com o presidente argentino, Alberto Fernández, a implementação de uma moeda comum com o país-vizinho e disse que os chefes dos respectivos Ministérios da Fazenda estão trabalhando na proposta.

“Pretendemos superar barreiras às nossas trocas, simplificar e modernizar regras e incentivar o uso de moedas locais. Também decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda comum sul-americana que possa ser utilizada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo os custos de operação e diminuindo a nossa vulnerabilidade externa”, diz o texto, publicado no site argentino Perfil.

Durante uma entre entrevista coletiva ao lado de Fernández na Casa Rosada, nesta segunda-feira (23), Lula disse que a ideia está em fase inicial de estudos.

“O que nós estamos tentando trabalhar agora é que os nossos ministros da Fazenda, cada um com sua equipe econômica, possam nos fazer uma proposta de comércio exterior e de transações entre os dois países que seja feito em uma moeda comum a ser construída com muito debate e com muitas reuniões. Isso é o que vai acontecer.”

A ideia da moeda comum foi apresentada originalmente em um artigo publicado no ano passado pelos escritores Fernando Haddad e Gabriel Galípolo -hoje ministro da Fazenda e secretário-executivo do ministério, respectivamente- e chegou a ser citada pelo ex-presidente Lula durante a campanha.

A visita à Argentina é a primeira jornada internacional do presidente desde que assumiu o cargo, cumprindo um ritual brasileiro de favorecer o maior aliado comercial da área, depois de quatro anos de tensão nas relações durante o mandato de Jair Bolsonaro.

A viagem de Lula à Argentina também será o momento em que o Brasil retornará à Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), grupo que havia sido abandonado em 2019, a pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que não quis fazer parte do bloco regional que incluía Cuba e Venezuela.

Nos escritos, os dois líderes enfatizam a importância de uma boa relação entre Argentina e Brasil para aumentar a integração regional.

Os dois presidentes defendem o sistema e a necessidade de acordos em conjunto, em meio à crise do Mercosul -que, com pressões brasileiras para mudanças em tarifas e tentativas do Uruguai de fazer acordos econômicos fora do bloco, não avança há quatro anos.

“Juntamente com os nossos sócios, queremos que o Mercosul constitua uma plataforma para a nossa efetiva integração ao mundo, por meio da negociação conjunta de acordos comerciais equilibrados e que atendam aos nossos objetivos estratégicos de desenvolvimento”, escrevem os presidentes.

O Uruguai anunciou recentemente a sua intenção de negociar acordos comerciais independentes com a China e com a Aliança do Pacífico (bloco que reúne Chile, Colômbia, México e Peru), o que viola as regras do Mercosul. A ação provocou uma crise direta entre os governos argentino e uruguaio, que Lula pretende ajudar a resolver.

O governo brasileiro também não aprova a iniciativa uruguaia, mas pretende negociar. Em conversa com o jornal Folha de S. Paulo, divulgada também no presente dia, o chanceler Mauro Vieira ressalta que um pacto fora do Uruguai “destruiria” o bloco, mas salienta que é possível negociar.

“Se você negociar fora, destrói a tarifa (externa comum, TEC). Temos que examinar, porque o Mercosul não é o mesmo da época da [sua] criação. Temos que ver as necessidades de cada um e as assimetrias que existem. Ver o que se pode fazer em termos de algum tipo de concessão”, detalhou.