Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou que mapas destacando regiões de forte apoio ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram usados como base para estratégias que buscavam dificultar o deslocamento de eleitores durante o segundo turno das eleições 2022.
Operação:
Dentro da teia dessa operação estavam personagens influentes do cenário político e da segurança pública, como o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques. O rastro digital mais evidente foi encontrado no celular de Marília de Alencar, a delegada federal à época diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, sob gestão de Anderson Torres. Em seu dispositivo, um documento estratégico delineava o plano: interferir principalmente nas áreas onde a concentração de votos pró-Lula era estrondosamente alta.
Foco estratégico:
Cidades estratégicas como Crato, no Ceará, e Paulo Afonso, na Bahia, tornaram-se alvos dessa operação. Para se ter uma ideia, Lula obteve nesses locais 81% e 77% dos votos, respectivamente. Em um contraponto notável, Bolsonaro registrou apenas 13% e 18% dos votos.
A implementação da operação:
O plano ganhou vida no segundo turno das eleições, quando a Polícia Rodoviária Federal executou paradas massivas de ônibus em estradas do Nordeste, tradicionalmente uma região de forte apoio ao PT.
As operações foram tão intensas que, quando comparadas a eventos de grande mobilização policial como o São João, ainda assim, se destacaram pela desproporcionalidade.
Evidências digitais incriminadoras
O telefone de Marília de Alencar, contudo, revelou mais do que apenas mapas. Um arquivo Excel, nomeado de forma sugestiva como “BA_ELEICOES_.xlsx”, deu à PF uma visão clara da extensão desse planejamento, indicando um meticuloso levantamento sobre quão amplo poderia ser o alcance de eleitores pela PRF.
A investigação da PF salientou um detalhe: a gigantesca disparidade entre a quantidade de ônibus retidos no Nordeste, comparada a outras regiões do Brasil. Esse dado, considerado “autoexplicativo” pela PF, lançou ainda mais suspeitas sobre a legitimidade das ações da PRF no dia das eleições.
A trama ganha contornos ainda mais intricados quando um ofício da PRF vem à tona, evidenciando a existência de dois planos distintos para as eleições – um abrangendo ambos os turnos e um específico para o segundo turno, que focava na fiscalização do transporte de passageiros. Este último foi considerado uma adição surpresa, pois não constava no planejamento inicial.