PF interroga general e 80 militares sobre atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro

A Polícia Federal (PF) intimou cerca de 80 militares do Exército, incluindo o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que chefiou o Comando Militar do Planalto, e o tenente-coronel Jorge Fernandes da Hora, que comandou o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), para depor sobre os atos antidemocráticos ocorridos no dia 8 de janeiro. A intenção é aprofundar a investigação sobre a eventual participação ou omissão de integrantes das Forças Armadas no episódio.

As intimações foram expedidas e os depoimentos estão marcados para a próxima quarta-feira. A PF montará uma força-tarefa para colher todas as declarações em tempo hábil. Essa investigação é considerada uma das maiores relacionadas a militares desde a redemocratização do país.

Os militares passaram a ser alvo de investigação após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizar que fossem investigados na Justiça comum, em vez de na Justiça militar. Os intimados atuaram no BGP e no Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Uma das linhas da investigação é averiguar se houve falhas desses órgãos que possibilitaram a invasão e depredação do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.

Com base nisso, a PF reuniu informações sobre os militares que exerceram funções de comando nesses órgãos e que possivelmente teriam conhecimento sobre os acontecimentos do dia 8 de janeiro.

O general Dutra, por exemplo, assumiu o Comando Militar do Planalto em abril de 2022, ainda durante o governo de Jair Bolsonaro, e foi mantido no posto no início do mandato do presidente Lula. Entretanto, após o episódio de 8 de janeiro, ele acabou sendo afastado do cargo.

Cláudio Fonteles, ex-procurador-geral da República, considera que esta investigação é “altamente sadia para a democracia”, destacando a magnitude dos fatos investigados.

“O caso envolveu uma quantidade enorme de pessoas e órgãos militares que, em tese, teriam que zelar pela integridade física e material do local”, afirmou.

Fonteles, que liderou a Procuradoria-Geral da República (PGR) entre 2003 e 2005, ressaltou a importância da investigação no contexto democrático: “Na democracia, não há ninguém acima de qualquer suspeita. É um regime em que você investiga todos os fatos acontecidos”.