Na sessão desta terça-feira (28), o vereador Sandro Fantinel (Patriota) de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, questionou as condições de trabalho em que 207 trabalhadores foram encontrados em situação de trabalho escravo em vinícolas na Serra Gaúcha, na última sexta-feira (24). De acordo com a polícia, a maioria dos trabalhadores era proveniente de cidades da Bahia.
Durante sua fala, Fantinel atribuiu a responsabilidade pelas condições em que os trabalhadores foram encontrados aos próprios empregados.
“Um agricultor me ligou e pediu para eu ver um alojamento onde ficar os trabalhadores temporários e não dava para entrar do fedor de urina, da imundície que eles perderam em uma semana. E a culpa é de quem? O patrão vai ter que pagar o empregado para fazer limpeza para os bonitos? Temos que botar eles em um hotel cinco estrelas para não termos problema com o Ministério do Trabalho?”
Posteriormente, o vereador se dirigiu às empresas agrícolas e agricultores do RS, sugerindo que não contratassem mais trabalhadores vindos do nordeste do país e, em vez disso, optassem por contratar argentinos, por considerá-los limpos, trabalhadores, corretos e agradecidos ao término do trabalho.
“Nunca tivemos problema com um grupo de argentinos. Agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. E que isso sirva de lição. Que vocês deixem de lado esse povo que está acostumado com Carnaval e festa.”, continuou.
Por fim, o vereador levantou dúvidas sobre a condição de escravidão relatada, ao mencionar que alguns dos trabalhadores que estavam no local aparentemente não queriam deixar o lugar.
“Se estava tão ruim a escravidão, porque eles não queriam deixar a empresa? Vamos abrir o olho quando falam em ‘trabalho psicológico a escravidão'”, finaliza.
Entre os 207 resgatados, 198 são da Bahia. Desses, 194 voltaram e quatro optaram por ficar no RS.
Boletim de ocorrência:
Algumas horas após a sessão, o deputado estadual do Rio Grande do Sul, Leonardo Radde, informou pelas redes sociais que havia registrado uma nova queixa-crime contra a fala do vereador. “O Rio Grande do Sul e o Brasil não são lugares para racistas, escravoscratas!”, afirmou.
Fuga e resgate:
Três trabalhadores chegaram ofegantes ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Bento Gonçalves, cidade localizada na região serrana do Rio Grande do Sul. As informações fornecidas por eles aos agentes resultaram na descoberta de um galpão com aproximadamente 240 trabalhadores em condições análogas à escravidão, muitos dos quais originários da Bahia.
Na sexta-feira (24), a PRF divulgou o caso, mas não revelou as identidades das vítimas. Apenas confirmou que a maioria delas é oriunda de cidades do interior baiano.
Após o resgate, os trabalhadores relataram para os médicos, que foram contratados para recolher uvas em vinícolas, em Caxias do Sul. Foi prometido ao grupo um salário de R$ 3 mil, acomodação e alimentação. No entanto, na chegada, eles se depararam com condições insalubres.
Segundo os depoimentos, os funcionários foram alojados em alojamentos com más condições, mal iluminado e com pouca ventilação. Comiam alimentos estragados nas refeições. Os salários eram pagos atrasados e as vítimas afirmaram que eram ameaçadas de multa caso deixassem o local, uma vez que estariam quebrando o contrato de trabalho.
As vítimas relataram serem obrigadas a cumprir longas jornadas de serviço e também sofreram castigos físicos. Uma arma de choque e um spray de pimenta foram encontrados no local. A PRF divulgou um vídeo nas redes sociais do momento em que os trabalhadores foram resgatados. Uma das vítimas descreveu as condições em que vivia.