Em discurso nesta quarta-feira (27), o presidente da República, Michel Temer (PMDB), ignorou as vagas de emprego com carteira assinada fechadas em novembro, mês em que a reforma trabalhista entrou em vigor, e voltou a exaltar as mudanças aprovadas, incentivadas pelo Planalto.
Mais cedo, o Ministério do Trabalho divulgou dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) que apontaram menos 12,3 mil vagas no Brasil. Ou seja, houve mais demissões do que contratações no período. A expectativa com a reforma trabalhista – válida desde 11 de novembro – era de que mais de 20 mil vagas fossem criadas devido às mudanças na legislação e nas formas de contratações.
Temer participou de cerimônia para autorizar a criação de zona de processamento de exportação do Porto do Açu, em São João da Barra, no Estado do Rio de Janeiro. Estiveram presentes no evento os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), entre outros.
"As pessoas insurgiram, gritaram, protestaram contra a reforma trabalhista: 'Vai tirar o direito de todo mundo'. Imagine o quadro: a única função do governo é editar uma norma que não é para combater o desemprego, mas para tirar o direito de todo mundo. E o que aconteceu ao longo desses quatro meses? Foi a ocupação de 1,2 milhão de postos de trabalho. Exata e precisamente por causa da confiança que se estabeleceu ao longo do tempo", declarou.
De acordo com o Caged, no entanto, o saldo de emprego formal somado nos quatro meses a partir de julho, quando a reforma foi sancionada, foi de 182.348 postos de trabalho.
Ainda segundo o cadastro, o número de contratações entre julho e outubro superou 1 milhão. Em julho, foram, 1,17 milhão de contratações, em agosto, 1,25 milhão, em setembro, 1,14 milhão e, em outubro, 1,19 milhão.
Entre janeiro e junho deste ano, contudo, o número de contratações formais já superava 1 milhão, sendo de 1.225.262 no primeiro mês, e 1.181.930 no fim do semestre. Esses dados não levam em conta as demissões em cada mês.
Reforma da Previdência
Na solenidade, Temer também voltou a defender a reforma da Previdência, que o governo quer aprovar em fevereiro na Câmara e até o final do primeiro semestre de 2018 no Senado.
O Planalto usa todo o tempo disponível no recesso para tentar angariar votos a favor da matéria, pois ainda não há consenso nem dentro da base aliada. Segundo o presidente, a reforma "é protetora dos mais pobres" e combate os privilégios.
Troca de afagos políticos
Os governistas aproveitaram a oportunidade para elogiar Pezão e a atuação do governo do Estado. Moreira Franco (PMDB), cuja carreira política foi construída no Rio, por exemplo, afirmou que a região do porto do Açu é uma das mais "ricas" do país, mas sofreu com os "desvirtuamentos" da administração pública sob o controle de políticos locais anteriores, sem citar nomes. Agora, afirmou, poderá recuperar a "vitalidade".
Temer falou que Pezão foi de uma "delicadeza extraordinária" para com ele e afirmou terem um "estilo muito educado", que não pode ser confundido com falta de autoridade. "O Pezão é assim e eu, modestamente, sou igualmente assim", declarou.
Em troca, o governador defendeu a reforma da Previdência e a sustentação do legado do governo Temer. Sobre a reforma trabalhista, disse que as pessoas "criticam", mas ter "certeza de que vamos colher esses frutos" advindos da medida.
Pagamento atrasado
O Rio de Janeiro enfrenta grave crise fiscal e política, com ex-governadores do PMDB presos, e o próprio Pezão com o mandato sob suspeição após recorrer da sua cassação pela Justiça Eleitoral por suspeita de abuso de poder econômico.
Depois de prometer para esse mês o pagamento referente a 2016 do 13º salário dos servidores estaduais, Pezão voltou atrás e suspendeu a previsão de quitação dos saldos atrasados.