Vídeo apreendido pela PF revela que Bolsonaro incitou ministros a espalhar desinformação sobre urnas

Polícia Federal descobre vídeo de reunião onde Bolsonaro e ministros discutem estratégias contra a Justiça Eleitoral.

A Polícia Federal desvendou provas contundentes de uma reunião realizada em 5 de julho de 2022, envolvendo a alta cúpula do governo da época, com o intuito de promover ativamente desinformação e ataques à Justiça Eleitoral. O vídeo, localizado em um computador apreendido na residência do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, revela uma tentativa organizada de deslegitimar a eleição do presidente Lula e enfraquecer o sistema eleitoral brasileiro.

Entre os participantes estavam figuras de alto escalão do governo, incluindo o então presidente Jair Bolsonaro, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, Mário Fernandes, então servidor da Secretaria-Geral da Presidência, e Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro.

Durante a reunião, Bolsonaro enfatizou a necessidade de seus ministros apoiarem sua campanha de reeleição e a disseminação de informações fraudulentas para reverter a situação eleitoral desfavorável.

“Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me ti… demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar <como que eu ganhei>, o cara tá no lugar errado”, declarou Jair Bolsonaro.

Ele reconheceu a precisão das pesquisas que indicavam a vitória de Lula já no primeiro turno e discutiu a convocação de embaixadores para apresentar alegações infundadas de fraude eleitoral. Essas ações, baseadas em falsidades sobre as urnas eletrônicas, culminaram na inelegibilidade de Bolsonaro pelo TSE.

“E a gente vê que o DataFolha continua … é … mantendo a posição de 45% e, por vezes, falando que o Lula ganha no primeiro turno. Eu acho que ele ganha, sim. As pesquisas estão exatamente certas. De acordo com os números que estão dentro dos computadores do TSE”, disse Bolsonaro.

A reunião explicitou um desvio de finalidade das funções do cargo, exigindo que ministros replicássem falas do presidente, promovendo desinformação com o uso da estrutura do Estado para fins ilícitos. Além disso, houve menções à infiltração de agentes da Abin em campanhas eleitorais e discussões sobre ações contra instituições e pessoas específicas antes das eleições, conforme transcrição da PF.

Um ponto crítico da reunião foi a proposta de Bolsonaro para a criação de um documento, com a participação dos presentes, que afirmasse a impossibilidade de “definir a lisura das eleições”, sugerindo a inclusão de elementos externos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para endossar a credibilidade da alegação.

“Quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui… é botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar… a OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal… dizer… que até o presente momento dadas as condições de… de… se definir a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas. E o pessoal assina embaixo”, detalhou o ex-presidente, segundo transcrição da PF.

Outros participantes, como Anderson Torres e Paulo Sérgio Nogueira, também expressaram visões que apontavam para ações incisivas e a identificação do TSE como “inimigo” do grupo, destacando a utilização da estrutura de defesa para objetivos políticos particulares.

“O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja … na guerra a gente … linha de contato, linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido pra que a gente não fique sozinhos no processo”, disse Paulo Sérgio Nogueira.

A investigação da PF evidencia a utilização de recursos estatais em uma campanha sistemática de desinformação e ataques à integridade do sistema eleitoral brasileiro.