CHICOSABETUDO
    Tecnologia

    Como maias previam eclipses solares com Dresden Codex

    Novo estudo desvenda como os maias usaram o Dresden Codex para prever eclipses solares, revelando a conexão entre ciência e espiritualidade.

    19/11/2025 às 12:48

    Um importante segredo da astronomia maia pode ter sido desvendado recentemente. Um estudo inédito esclarece como os maias utilizavam o Dresden Codex, um dos poucos manuscritos pré-colombianos preservados, para prever eclipses solares entre 350 e 1150 d.C. Essa nova compreensão revela as interconexões entre matemática, astronomia e práticas rituais da civilização maia, cuja dinâmica política e religiosa era guiada por ciclos celestes.

    O Dresden Codex, datado dos séculos 11 e 12, é um manuscrito de 78 páginas feito de casca de árvore, repleto de ilustrações e informações sobre ciclos lunares, astrologia e fenômenos astronômicos. Um dos pontos que mais intrigou pesquisadores foi uma tabela de 405 meses lunares, que se pensava permitir a previsão de eclipses, embora a real aplicação desse recurso permanecesse incerta até agora.

    Os eclipses solares eram eventos de grande significado espiritual para os maias, que realizavam rituais para fortalecer o deus Sol e garantir a continuidade de seus ciclos. A historiadora Kimberley Breuer, da Universidade do Texas, destaca que compreender os padrões celestes era crucial para que os governantes organizassem cerimônias e tomassem decisões relevantes para a comunidade.

    A nova interpretação, desenvolvida pelo linguista John Justeson e pelo arqueólogo Justin Lowry, refutou a ideia anterior de que a tabela funcionava como um ciclo contínuo. Os pesquisadores demonstraram que, para prever eclipses com precisão, era necessário reiniciar a nova tabela no mês 358 do ciclo anterior, e em certas ocasiões, utilizar o mês 223 para corrigir erros acumulados. Esse método, embora simples, garantiu uma acurácia impressionante ao longo dos séculos.

    Ao comparar os cálculos do Dresden Codex com dados astronômicos atuais, os pesquisadores afirmaram que o sistema previu todos os eclipses solares visíveis na região ao longo de cerca de 800 anos, com erros acumulados inferior a 2 horas e 20 minutos na maioria dos casos. A pesquisa, publicada na revista Science Advances, sublinha a sofisticação matemática dos maias e seu entrelaçamento entre ciência e espiritualidade.

    A descoberta reforça a relevância dos daykeepers, indivíduos responsáveis por registrar e acompanhar os ciclos astronômicos, e ressalta a importância do conhecimento astronômico na civilização maia. Estudos futuros podem expandir ainda mais a compreensão sobre a cosmologia dos maias e seus métodos avançados de previsões astronômicas.