A cidade de Salvador enfrenta desafios significativos em relação ao planejamento urbano, evidenciando desigualdades sociais e arquitetônicas. A arquiteta e urbanista Angela Maria Gordilho, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), enfatiza que o urbanismo é crucial para entender as dinâmicas entre os diferentes bairros da capital baiana. Para ilustrar, ela aponta que o bairro de Pernambués abriga não apenas um shopping center de alto padrão, mas também uma das maiores favelas da cidade, revelando a complexa interação entre riqueza e pobreza em áreas geográficas adjacentes.
Angela observa que as características das periferias em Salvador não se alinham com as definições tradicionais usadas em outros centros urbanos, pois as áreas mais carentes coexistem próximo a centros financeiros e de poder, como o Nordeste de Amaralina e Calabar. Essas comunidades historicamente carecem de investimentos adequados, criando um ciclo de exclusão e marginalização.
Outro aspecto importante revelado pela pesquisadora é a regulamentação das comunidades. Apesar de muitas ocupararem terrenos com alvarás de construção, elas estão muitas vezes à margem das regulamentações urbanísticas. Isso resulta em habitações frequentemente incompletas e crescentes verticalizações, características de um urbanismo informal.
Angela também destaca que o termo “favela” não é apropriado para descrever a realidade de Salvador. Segundo ela, essas áreas são mais corretamente denominadas de bairros pobres, sugerindo uma diferença na forma como as comunidades se formaram, com arrendamentos ou doações de terrenos. Ao longo do tempo, diversas comunidades foram removidas de áreas valorizadas, muitas vezes com o suporte do Estado, mas esse processo nem sempre foi pacífico.
Em sua atuação como Secretária de Habitação entre 2005 e 2008, a pesquisadora buscou implantar planos para a reestruturação habitacional em bairros carentes, destacando que é necessário um plano de bairro robusto e contínuo para reverter a marginalização urbana. A falta de vontade política e investimentos em longo prazo dificulta a implementação de ações efetivas de desenvolvimento urbano, com o PDDU contribuindo para o foco excessivo nas áreas centrais, em detrimento das periferias.
Para Angela, um projeto sustentável de recuperação urbana deve ser planejado para um prazo de pelo menos 50 anos, visando a integração de todos os segmentos da sociedade. Ela ressalta que a mudança na cultura urbana deve ser promovida por cada cidadão, não apenas pelas instituições governamentais. A transformação da cidade passa pela valorização do espaço público e pela conscientização coletiva sobre a importância do lugar onde se vive.

