O Instituto Alan Turing, principal centro nacional de inteligência artificial do Reino Unido, voltou a ocupar as manchetes no último verão europeu após denúncias internas sobre uso indevido de recursos, falhas na missão institucional e um ambiente de trabalho tóxico. Em consequência, a instituição passou a ser investigada pela Charity Commission.
Mas o que está em jogo? As alegações geraram risco real de impacto financeiro e reputacional, e também fizeram emergir dúvidas sobre a cultura e a gestão do centro.
Em resposta às acusações, o presidente Doug Gurr citou uma apuração externa que, segundo ele, concluiu não haver substância nas reclamações.
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Cada uma das preocupações foi investigada e nenhuma apresentou fundamento, disse Doug Gurr.
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A turbulência na gestão foi visível: três diretores seniores, o diretor de tecnologia e, mais recentemente, o diretor-executivo deixaram os cargos durante o período de contestações internas.
Fontes internas também alertaram para o risco de perda de financiamento público da ordem de £100 milhões, caso o então secretário de tecnologia, Peter Kyle, retirasse o apoio. Gurr admitiu que transições administrativas são desafiadoras e defendeu que as atividades continuassem enquanto as investigações seguiam seu curso.
Prioridades mantidas
A direção afirmou que seguiria com projetos considerados estratégicos, focados em áreas onde o Reino Unido teria vantagem competitiva:
- aprimoramento da precisão de previsões meteorológicas;
- redução de emissões no setor de transporte por meio de soluções digitais;
- pesquisa cardíaca com gêmeos digitais para estudar o funcionamento do coração humano;
- ampliação de atividades em defesa e segurança nacional, a pedido do secretário de Negócios.
Gurr reconheceu que parte desses trabalhos se sobrepõe a atividades de outras agências, como o UK Research and Innovation (UKRI) e o Ministério da Defesa (MOD), e expressou preocupação com um contexto internacional mais instável, em que a tecnologia ganha papel crescente nas questões de segurança.
Observadores no Brasil destacaram que decisões sobre governança e financiamento em centros de ponta como o Alan Turing podem repercutir em políticas públicas e projetos regionais de inteligência artificial. Segundo essas fontes, os efeitos podem alcançar iniciativas locais, incluindo projetos em Paulo Afonso, na Bahia.
Como desdobramentos confirmados até agora, a instituição permanece sob escrutínio da Charity Commission e Doug Gurr manteve-se na presidência. A direção afirmou que continuaria com os programas anunciados enquanto aguardava o desfecho das investigações externas.

